Alcoolismo, uma doença de excesso nutricional

Tempo de leitura: 2 minutos

Robert Dudley, da Universidade da Califórnia em Berkeley, desenvolveu a “hipótese do macaco bêbado”, segundo a qual, a 40 milhões de anos atrás, a atração pelo álcool teria conferido a nossos ancestrais uma vantagem na competição por frutas maduras, base da dieta dos primatas desde aquela época até hoje.

Funcionaria assim: o calor e a umidade dos trópicos, onde os humanos evoluíram, causam uma fermentação na casca e na polpa. Os açúcares são convertidos em várias formas de álcool, sendo que a mais comum é o etanol – presente em todas as bebidas alcoólicas. O vapor se dispersa no vento e é um ótimo sinal de que a fruta está madura. Para nossos ancestrais, seguir o cheiro de etanol ajudaria a encontrar frutos mais nutritivos. A seleção natural teria então favorecido os primatas com gosto pelo álcool – um traço que teria permanecido mesmo quando os humanos mudaram de dieta.

Para reforçar esta hipótese, o pesquisador americano Dustin Stephens analisou as sobras da refeição de um macaco guariba numa floresta panamenha. O animal subiu em uma palmeira para um banquete de pequenos frutos. Correndo o risco de queda ou de se cortar em espinhos, ele pula entre os galhos como se fosse um jovem embriagado. Exatamente: Stephens acredita que o macaco estava mesmo de porre após somar o álcool presente nas frutinhas. O resultado equivale a 7 latas de cerveja consumidas por uma pessoa.

Segundo Dudley e Stephens, a prova da tendência ao alcoolismo está nos nossos genes, já que possuímos diversas enzimas feitas só para digerir o etanol que dificilmente existiriam caso não representassem uma vantagem evolutiva. Os pesquisadores afirmam que o álcool só teria se tornado um problema a partir da Idade Média, quando começaram a ser produzidos os destilados com alto teor alcoólico.

Desta forma, o alcoolismo seria uma doença de excesso nutricional, causada pela disparidade de oferta de alimento entre os ambientes pré-histórico e contemporâneo – assim como a obesidade, fruto do encontro entre nossa voracidade por comida e a abundância de calorias hoje à disposição.

 

Fonte: Superinteressante