Extrapolando as fronteiras da saúde

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mostramos aqui os alertas de profissionais de saúde sobre o aumento do risco de morte associado ao uso de drogas psiquiátricas, refletindo muito de perto o aumento de mortes relacionadas ao uso de opióides nos Estados Unidos.

A questão já vinha sendo tratada como uma epidemia, inclusive com a formação de um grupo de trabalho especial coordenado pela Casa Branca. Afinal, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, desde o final da década de 1990 mais de 300 mil americanos morreram em decorrência de overdoses de analgésicos. Comumente indicados para dores fortes, estes medicamentos são baseados em substâncias sintéticas que simulam os efeitos dos opiáceos, drogas obtidas a partir do ópio, uma das substâncias mais viciantes que existem e origem, também, da morfina e da heroína.

Se para alguns especialistas, no caso dos benzodiazepínicos (classe de medicamentos psiquiátricos conhecidos como “tranquilizantes”) grande parte do ônus é sobre os médicos, que precisam ser devidamente educados antes de prescrever tais medicamentos, no que diz respeito aos analgésicos a acusação recai sobre a indústria farmacêutica.

Ou, pelo menos, sobre as empresas relacionadas à produção do medicamento, que estão sendo responsabilizadas por esta epidemia ao deixar de fornecer, a médicos e pacientes, informações importantes relacionadas à dependência química dos seus produtos. Nos últimos dois meses, cinco Estados dos EUA entraram com processos contra farmacêuticas: Mississipi, Oklahoma, Ohio, Missouri e Carolina do Sul.

Com a alegação de que as companhias, além de negligenciarem a capacidade viciante dos opióides, superestimaram seus benefícios, ao menos uma dúzia de cidades estadunidenses fez o mesmo e entrou na onda que já está sendo comparada aos processos movidos contra a indústria do tabaco nos anos 1990 – encabeçados, novamente, pelo estado do Mississipi.

Na ocasião o Estado visava, inicialmente, obrigar a indústria a custear tratamento médico para fumantes que procuram auxílio do Estado. Ao todo, 40 dos 50 Estados norte-americanos seguiram a ação do Mississippi. Após dois meses de negociações para pôr fim às ações movidas, um acordo foi negociado entre representantes da indústria e os procuradores-gerais, naquela que é considerada a maior derrota da história da indústria tabagista dos Estados Unidos.

Ficou acertado que as empresas do setor desembolsariam US$ 368,5 bilhões em indenizações e punições, admitiriam que tabaco vicia e teriam que aceitar um rígido controle federal sobre seus produtos e propaganda.

Naquela época, o procurador-geral do Mississippi era o advogado Mike Moore. É ele que, agora, encabeça o movimento contra os fabricantes de opióides. Vamos esperar para ver se ele acerta novamente.

Enquanto isso, no Brasil, o setor de analgésicos movimentou US$ 902 milhões em 2010 (data da última pesquisa sobre o tema feita pela consultoria IMS Health). O país é o 6º maior mercado do mundo, ficando atrás de gigantes como o próprio EUA e também Alemanha, e supera fortes economias como o Japão e Espanha. Segundo a mesma consultoria, hoje estão registrados no mercado brasileiro mais de 380 produtos analgésicos.

 

Fonte: IstoÉ Dinheiro