As sequelas

Tempo de leitura: 3 minutos

Os usuários de drogas não entendem a bomba dramática que as drogas causam em sua mente. O problema não é o efeito momentâneo de uma dose de heroína ou cocaína, mas as sequelas na matriz da memória. O efeito de cada nova dose é registrado de maneira privilegiada pelo fenômeno RAM (registro automático da memória) na MUC (memória de uso contínuo), formando ou expandido uma janela traumática especial, chamada janela killer duplo P. Esta, por sua vez, como vimos, leva ao fechamento do circuito da memória, produzindo o cárcere do Eu, o aprisionamento de nossa capacidade de escolha. Além disso, desertifica o fenômeno da psicoadaptação, que provoca a necessidade de doses cada vez maiores de uma droga para produzir os mesmos efeitos iniciais. Desse modo se instala o monstro da dependência nos solos do inconsciente. Nunca um ser humano que nasceu para ser FREEMIND, ter uma MENTE LIVRE, foi tão algemado, dominado, escravizado, asfixiado.

E não há gigantes na espécie humana. Mesmo uma pessoa destituída de grandes traumas na infância e na adolescência pode se tornar um dependente na vida adulta. Isso dependerá, claro, de algumas variáveis: do tipo de personalidade, do tipo de droga, da quantidade, da frequência do uso e dos momentos existenciais em que esse uso se processou. Mas, reitero, não há gigantes, pois as drogas psicotrópicas abalam fenômenos inconscientes!

Se considerarmos a memória como uma cidade, o fenômeno RAM, com o hábito do uso, vai arquivando as janelas killer em áreas nobres do nosso centro de circulação – o centro de produção de nossos mais importantes pensamentos, emoções e imagens mentais. Desse modo, metaforicamente, os jardins vão perdendo suas flores, as praças deixam de ser iluminadas, as ruas ficam esburacadas, os esgotos ficam a céu aberto.

O fenômeno RAM não perdoa ninguém, não abre concessões para ricos, intelectuais ou celebridades. Ele arquiva tudo automática e inconscientemente. Não perdoa em especial o usuário de drogas, pois elas, por terem efeitos emocionais intensos, são arquivadas de forma privilegiada, desenhando plataformas de janelas traumáticas duplo P, que constroem algemas invisíveis. Quando elas se dão conta, já não são livres. Como foi desenhada a sua dependência? Você percebia em que beco estava entrando?

Em alguns casos a dependência é tão grave que as janelas killer são transportadas da MUC para a ME, ou seja, do centro para a periferia da memória, desorganizando as estruturas da personalidade. A esperança é que, mesmo tendo tido uma infância doentia, uma adolescência traumática, uma memória inconsciente (ME infeliz e traumática, é possível reescrever a MUC ou construir um centro saudável nas matrizes da memória). Você esta disposto a refazer os jardins, as praças, os teatros do centro da sua psique? Tem esperança de que, depois do mais dramático inverno, capitaneado por uma longa e traumática dependência química, poderá surgir a mais bela primavera?

“Ó Deus, agradeço-Te hoje os problemas de minha vida. Faze com que eu os use para me transformar em uma nova pessoa.”

4 Comentários


  1. Vivo nesse universo sombrio, em busca de ajuda para tratar de um filho de 24 anos, dependente quimico está internado pela 5º vez
    Tenho acompanhado artigos relacionados ao tema


  2. Qual o melhor caminho para se tratar da mente, mesmo depois de 6 anos limpa?

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