Ayahuasca: um chá no centro de uma polêmica

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Ayahuasca é um nome Quéchua, de origem inca, que se refere a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi (mariri ou jagube), e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona ou rainha) que contém o princípio ativo dimetiltriptamina. Aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá.

As origens do uso da Ayahuasca na bacia Amazônica remontam à Pré-história. Apesar de não ser possível afirmar quando tal prática teve origem, existem evidências arqueológicas através de potes, cujos desenhos levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2.000 a.C.

Utilizada pelos incas e também por pelo menos setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia, a Ayahuasca é utilizada em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil.

A expansão pela América do Sul e outras partes do mundo se deu com o crescimento de movimentos religiosos organizados, sendo os mais significativos o Santo Daime, a União do Vegetal, além de dissidências destas e grupos (núcleos ou igrejas) independentes que a consagram em seus rituais.

O uso dentro de tais contextos religiosos, em rituais de comunhão como um simbolismo comparável ao “pão e vinho”, foi oficialmente reconhecido e protegido pela lei no Brasil em 1987 pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Droga (Conad). Apesar da liberação, o Conad impõe algumas regras para o consumo do chá: pessoas com histórico de transtornos mentais ou sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas estão proibidas de ingerir a droga. Também é obrigatório que as seitas do Daime “exerçam rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos”.

Plantas com propriedades alucinógenas vem sendo utilizadas com finalidades místicas e religiosas em diferentes culturas primitivas e vem atraindo cada vez mais interesse na comunidade acadêmica.

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria em 2014 mostrou que o chá pode ser um potencial tratamento para depressão. Outra pesquisa, realizadas por cientistas espanhóis, analisam o uso do chá no tratamento de vícios de outras drogas. Porém todos estes estudos são limitados e preliminares, e os pesquisadores ainda estão tentando entender o modo como a substância afeta o cérebro.

Em 2016, Brita Brazil e Nizo Neto – filho de Chico Anysio – atribuíram a morte do filho Rian Brito ao chá de ayahuasca. De acordo com a família, o rapaz teria mudado muito após tomar a bebida. O corpo de Rian foi encontrado na Praia de Flexeiras, em Quissamã (RJ), no dia 3 de março. O rapaz saiu de casa no dia 23 de fevereiro, dizendo que ia para a autoescola.

Nizo Neto, inclusive, divulgou um abaixo-assinado online pela proibição do consumo do chá Ayahuasca. O protesto, que seria entregue à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porém, não atingiu a marca exigida.

Grupos que defendem o uso do chá, cuja cor varia entre o ocre e o marrom-escuro, afirmam, entretanto, que, até o momento, ninguém conseguiu apresentar qualquer afirmação negativa contra o uso ritualístico da Ayahuasca e que não se conhece um único caso de alguém dependente física ou mentalmente do chá.

O fato é que o Santo Daime altera a percepção dos estímulos externos e, por isso, foi colocado na categoria das drogas chamadas perturbadoras do sistema nervoso (tal qual a maconha e o LSD). Segundo especialistas, pode haver sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. O consumo do chá também pode desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno bipolar, esquizofrenia). Assim, quem toma medicamentos antidepressivos deve esquecer o chá, pois, sobreposta em doses elevadas, a mistura pode até provocar derrame cerebral.

 

Fonte: Antidrogas