“Sais de banho” e canibalismo no Ceará

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De acordo com a Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas da Polícia Civil do Ceará, a “Operação Ponto de Impacto” apreendeu pela primeira vez naquele Estado um novo tipo de droga sintética, a “metilona”, uma das substâncias químicas conhecidas pelo nome fictício de “sais de banho”. Este alucinógeno possui o mesmo princípio ativo do ecstasy e tem como um de seus efeitos a indução ao canibalismo já que, nos EUA, um sujeito provavelmente sob efeito desta droga comeu o rosto de um idoso em situação de rua, arrancando-lhe as bochechas, o nariz e um dos olhos.

De acordo com a delegada Patrícia Bezerra, o ponto de partida da operação foi a divulgação de uma festa rave no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A operação foi deflagrada no sábado e prendeu sete pessoas. Entre as apreensões, estavam entorpecentes, além da metilona, skunk e ecstasy.

As investigações apontam que a droga chegou ao Ceará pelos Correios, oriunda da China. “A metilona, a exemplo das outras drogas sintéticas, tem uma densidade volumétrica muito baixa, podendo ser transportada facilmente, a exemplo do ecstasy e do LCD. Os traficantes têm facilidade em mandar essas drogas pelos Correios, passando muitas vezes pelo raio-x sem que seja percebida”, pontua a delegada.

A metilona pode ser aspirada (como a cocaína), ingerida em formato de comprimido ou diluída em líquidos. A sensação provocada pode ser de euforia, prazer, elevação do humor e aumento da libido – bastante similar aos efeitos do ecstasy. Mas há também a possibilidade de o usuário ter batimentos cardíacos acelerados, tremores e convulsões que podem desencadear problemas maiores.

O termo “sais de banho” não passa de um disfarce para a comercialização do entorpecente, na maioria das vezes online e os tais “sais” podem ter outras composições além da metilona, como mefedrona, MDPV, alfa-PVP, etilona e butilona.

Como pode ser vendida como fertilizante agrícola, repelente de inseto e até produto de limpeza, a metilona teve um período curto na legalidade brasileira já que, em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o consumo dela e outras 20 drogas no país.

O caso que rendeu à droga a fama de causar “efeito canibal” aconteceu em 2012, em Miami, nos Estados Unidos. O jovem Rudy Eugene, de 31 anos, foi morto pela polícia local após ser flagrado cometendo atos de canibalismo contra Ronald Poppo, de 65 anos. O rapaz chegou a comer orelhas, nariz, um globo ocular e parte do rosto da vítima, depois de despi-la e espancá-la.

A informação de que Eugene estava sobre efeito da Cloud Nine (como a metilona é conhecida por lá) foi dada pelo jornal Miami Herald, após relato de policiais. No entanto, o exame toxicológico do rapaz detectou apenas maconha no corpo dele. Eugene já tinha histórico de problemas com drogas e com a Justiça.

Mas o suposto efeito de canibalismo provocado pela nova droga é mito, de acordo com o psiquiatra e professor da Universidade Brasília (UnB) Raphael Boechat Barros. Especialista em drogas e seus efeitos no corpo, Boechat pontua que o canibalismo “é um ato muito complexo” e nenhum tipo de droga é capaz de desencadear efeito nesse nível.

 

Fonte: Tribuna do Ceará