Uma ampla revisão da literatura sobre a Cannabis

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Criado em 2014, o Foria é um lubrificante feminino à base de maconha. Trata-se de um spray feito à base de óleo de coco e cannabis que contém dois miligramas de THC, o agente psicoativo da droga. O efeito, segundo os fabricantes, ocorre imediatamente e algumas mulheres juram que o produto proporciona quinze minutos contínuos de orgasmo. Por este motivo, o Foria foi premiado como um dos dez produtos e serviços que fizeram a vida da mulher melhor em 2016 na categoria sexo e saúde pela Female Founders Fund, fundo de investimento americano que apoia startups voltadas ao público feminino.

Por outro lado, cientistas ingleses descobriram que fumar maconha pode influenciar na  ambição do usuário.

Eles pediram para participantes inalarem uma vez placebo e outra vez cannabis. Depois, mandaram todos apertar dezenas de vezes uma barra de espaço em curtos intervalos de tempo. Os participantes tinham duas opções: ou pressionavam 30 vezes a tecla em 7 segundos, e ganhavam 50 cents – ou teclavam 100 vezes em 21 segundos, para levar até dois euros. O resultado mostrou que quem fumava a maconha tinha mais chance de desistir do dinheiro fácil do que quem usou placebo.

Estas e outras 10 mil pesquisas científicas foram analisadas por um gabaritado time de especialistas das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos (Nasem) em uma ampla revisão da literatura sobre a maconha, seus derivados e suas possíveis relações com doenças mentais, cardiovasculares, entre outros.

Em um momento em que a discussão sobre os benefícios e malefícios da maconha veio à tona com o posicionamento do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, que se declarou à favor da legalização da substância (e também da cocaína) como forma de combater o tráfico de drogas, nada mais correto que saber um pouco mais a respeito das evidências científicas sobre os efeitos da Cannabis para a saúde.

Estudos revisados sugerem uma relação entre o uso de maconha e posterior acidente com veículos, como carros. Além disso, há base factual que demonstra, em estados onde o uso da maconha é legalizado (nos EUA), um aumento na overdose não intencional com Cannabis entre crianças. De 2000 a 2013, por exemplo, a taxa anual de chamadas de emergência para infecções relacionadas a exposição à Cannabis em crianças foi 2,82 maior em estados americanos que haviam legalizado o uso medicinal da maconha do que aqueles em que este uso era proibido.

Já sobre a ligação entre a maconha e o câncer, os pesquisadores encontraram evidências positivas ao aumento de alguns tipos de câncer testicular. Ainda de acordo com os cientistas, é preciso mais pesquisas para entender a associação entre o uso da maconha a ataques cardíacos e diabetes. No entanto, algumas evidências sugerem que fumar Cannabis pode, de fato, desencadear um ataque cardíaco.

Já no quesito das doenças respiratórias, se não existe base factual suficiente para compreender a relação do uso da substância com doenças como a asma, por outro lado as evidências sugerem que o fumo regular da maconha está associado a episódios mais frequentes de bronquite crônica e sintomas como tosse.

Os cientistas do Nasem também revisaram a evidência de que o consumo de Cannabis pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia, outras psicoses e distúrbios de ansiedade social e, em menor grau, depressão. O uso pesado de maconha também torna mais propensos pensamentos de suicídio e, e em indivíduos com transtorno bipolar, usuários quase diários da substância mostram ampliação dos sintomas.

Quanto aos efeitos psicossociais, os pesquisadores apontaram que há evidências de que o consumo imediato de maconha prejudica o aprendizado, a memória e a atenção. A adolescência e a juventude são os períodos em que os jovens mais comumente começam a experimentar drogas, e é nesses períodos que as camadas neurais ligadas ao desenvolvimento da cognição são mais ativas.

Por fim, com relação ao abuso de substâncias, a revisão encontrou evidências moderadas de que há uma ligação entre o consumo de Cannabis e o desenvolvimento de dependência e abuso de substâncias como álcool, tabaco e outras drogas ilícitas.

Ah, e para as nossas leitoras, um aviso: por enquanto só moradoras da Califórnia e do Colorado, nos Estados Unidos, conseguem comprar o Foria – ainda assim, somente com autorização médica para consumo de cannabis medicinal.

 

Fonte: O Globo