Catuaba: mitos e verdades

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A catuaba, também conhecida como Alecrim-do-campo, Catuaba-verdadeira, Catuabinha, Catuíba, Catuaba-pau, Caramuru ou Tatuaba, é um arbusto natural do Brasil, de áreas de Cerrado e Mata Atlântica, e pode ser comprada em lojas de produtos naturais, farmácias de manipulação e alguns mercados e supermercados, na forma de pó, cápsulas, na sua forma natural ou como bebida alcoólica.

Nesta última forma, a catuaba, cujo nome científico é Anemopaegma mirandum, está há mais de 20 anos no mercado e, de um tempo para cá, se tornou a queridinha dos foliões. Prova disso é que desde 2016 os fabricantes comercializam mais de 900 mil litros da bebida – ou seja, cerca de dois mil litros por hora no período do carnaval.

Segundo os fabricantes, as razões para essa bebida ficar tão famosa entre os jovens são o preço e o fato de pode ser consumida em qualquer temperatura (quente ou fria).

Acontece que as bebidas que atualmente são conhecidas como catuaba em verdade não seguem uma composição padrão. Um tipo bastante popular é feito com vinho, álcool etílico, açúcar, xarope de maçã, e extratos de guaraná, marapuama e catuaba, de onde vem seu nome. Ou seja: é uma mistura de fermentado e destilado, com teor alcoólico maior que o da cerveja e similar ao do vinho. Para se ter uma ideia, em uma latinha de cerveja são cerca de 5% contra 12% a 16% da catuaba, dependendo do sabor escolhido. Trocando em miúdos, são 14 gramas de álcool a cada 100 ml, ou 98 calorias por dose de catuaba. Isso deixa uma pessoa bêbada rapidamente.

O teor calórico também é relativamente alto – pelo menos 2,5 vezes o de uma cerveja comum. Nas marcas mais populares, a graduação chega aos 14%, soma de álcool e de outras bebidas usadas na fabricação da catuaba, como o vinho tinto seco.

Segundo a nutricionista Nina Camargo, da clínica Dr. Newton Roldão, a catuaba engorda, assim como toda bebida alcoólica, já que gera uma inflamação no organismo que contribui para o ganho de peso. Porém, no caso específico da catuaba, ainda há alta quantidade de carboidratos, provenientes da fórmula com açúcar, xarope de maçã e caramelo de açúcar.

Como o carboidrato do álcool não é aproveitado pelo organismo, então há o risco de hipoglicemia, apesar da alta dose de açúcar fornecida pelo drinque. Em último caso, até o coma alcoólico pode aparecer. Além disso, enquanto as doses são ingeridas sem parar, o fígado, órgão que metaboliza o álcool, não dá conta de lidar com todas as moléculas. O tempo varia, mas em geral o corpo leva cerca de uma hora e meia para metabolizar cada dose. Acima disso o consumo já é considerado prejudicial.

Em longo prazo, o problema é a cirrose hepática, quando o órgão vai aos poucos deixando de funcionar, e o acúmulo de gordura abdominal, a que mais oferece perigo ao coração. Sem contar que casos de câncer estão ligados à bebedeira.

No curto prazo, quando a festa acaba, a qualidade do sono fica prejudicada e, no dia seguinte, a famosíssima ressaca aparece, financiada pela desidratação provocada pelo álcool. Com o calor e suor que costumam acompanhar os bloquinhos de carnaval, esse efeito é ainda mais sentido.

Nina Camargo explica que a catuaba pode causar mais ressaca por conter conservantes que, ingeridos em grandes quantidades, aumentam o mal-estar. E mais: o vinho da composição agrega substâncias que dilatam os vasos sanguíneos, como taninos e tiramina, podendo causar a sensação de pressão e dores de cabeça. A alta quantidade de álcool também desidrata o organismo, gerando cefaleia e sensação de boca seca, explica a nutricionista.

E a fama de servir como estimulante sexual?

Historicamente, os índios Tupis têm usado a catuaba como afrodisíaco há muito tempo. Entretanto, não existem evidências científicas consistentes sobre o poder afrodisíaco da planta. De acordo com estudiosos, a explicação para os “efeitos afrodisíacos” é que os compostos da bebida aumentam o fluxo sanguíneo dos órgãos genitais o que facilitaria a ereção, além do próprio fator desinibição provocado pelo álcool. Mas, com o exagero, a extroversão pode ser substituída pelo efeito depressor no sistema nervoso. Neste caso, a libido vai embora. Outro detalhe importante é que os estudos foram feitos somente em cobaias de laboratório – não existem estudos aplicados ao ser humano. Logo, não se pode afirmar que a catuaba tenha algum efeito no desempenho sexual tendo como base apenas pesquisas com animais.

Segundo o professor João Calixto da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que estuda uma variedade da erva vinda da Bahia para fabricar remédios contra a depressão, “não foram observados poderes estimulantes, mas propriedades antidepressivas e analgésicas”. Ou seja, mesmo tendo propriedades vasodilatadoras a planta não é capaz de atiçar os ânimos sexuais.

Arte do ilustrador Benício mostra famoso rótulo

Em meados de 2008, inclusive, uma das maiores produtora da bebida foi vítima de uma ação judicial em Minas Gerais obrigando-a a dissociar a ideia de melhoria na performance sexual com a bebida.

Inspirada pelo filme Instinto Selvagem, com Michael Douglas e Sharon Stone, de 1992, a bebida traz um apelo sexual no rótulo (ao lado), que contém a imagem de um homem musculoso carregando uma mulher guerreira nos braços, desenhado por José Luiz Benício – um dos mais celebrados ilustradores brasileiros. “A trama serviu de inspiração para a escolha do nome e de toda a aura de sensualidade que a envolve. Entendendo a embalagem como primeira e mais importante peça de comunicação. Procuramos Benício e, com habilidade, ele conseguiu imprimir ao rótulo o posicionamento da marca. O resultado foi uma ilustração icônica que é a própria identidade do produto”, comenta Mozart Rodrigues, sócio e diretor do grupo Arbor Brasil, proprietário do rótulo que optou por mantê-lo até hoje como forma de originalizar a bebida, já que outras fabricantes adotaram rótulos com notável apelo sexual (algumas na imagem que ilustra este artigo).

 

Fontes: Vix Viva e Manual do Homem Moderno