Praia não é cinzeiro. Nem o corpo

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A foto que ilustra este artigo, de três crianças na praia de Itanhaém, no litoral de São Paulo, em frente a centenas de bitucas de cigarro que formam a frase “praia não é cinzeiro”, tem repercutido nas redes sociais desde a semana passada.

Elas participaram da ação ‘Verão no Clima’, da ONG Ecosurf, criada há 18 anos. A campanha busca sensibilizar as pessoas na praia, durante o verão, sobre os efeitos da poluição nesse ambiente.

As crianças curtiam a praia quando o trabalho começou, viram os monitores fazendo a coleta e pediram para participar.

Segundo o diretor do projeto, João Malavolta, as crianças foram fundamentais na ação que, somente naquele dia da foto, mais de 1.337 filtros de cigarros em uma área de 5.330 metros quadrados – uma média de, aproximadamente, 3,9 filtros por metro quadrado. Tudo isso em, apenas, 30 minutos.

As bitucas de cigarro ganham mais ênfase em casos assim, mas o que muita gente não considera é que os resíduos do cigarro permanecem no local mesmo depois que o cheiro vai embora. Carpetes, cortinas, móveis e roupas, caso não sejam bem higienizados regularmente, podem ser verdadeiros depósitos desses fragmentos invisíveis – fazendo com que pelo menos um restinho das toxinas presentes no cigarro continuem por ali.

Essa transmissão de fato acontece e pode ser bastante nociva, conforme comprovou um estudo desenvolvido na Universidade da Califórnia durante seis meses. Durante este período, pesquisadores expuseram as cobaias a objetos como estofamentos, cortinas e carpetes previamente batizados com resíduos de cigarro. Para que o experimento fosse preciso, a quantidade de toxinas nesses materiais era próxima a que foi encontrada em casas de fumantes pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA).

Com um mês em contato com os materiais, seu sangue já tinha 50% mais moléculas que causam inflamação, em comparação aos ratos que não estavam em contato com os móveis contaminados. Dois meses depois, o grupo apresentou danos nas células do fígado e no cérebro.

O quadro se agravou com a marca de quatro meses de experimento. Nessa época, os níveis de cortisol estavam 45% mais elevados, e as taxas de insulina no sangue, 30% maiores. Esses dois fatores indicam um organismo mais fragilizado e mais sujeito a diabetes. Ao final dos seis meses de estudo, o cenário só piorou, com índices ainda mais altos.

140 milhões de cigarros são consumidos por ano no Brasil. Carros e casas que são ocupados por fumantes, muito provavelmente, podem estar contaminados com tais resíduos. Já o péssimo hábito de descartar bitucas no chão leva à contaminação pelos perigosos acetato de chumbo, nicotina, e outras cerca de 50 substâncias comprovadamente cancerígenas a rios e mares.

Além disso, segundo dados da Faculdade de Saúde Pública da USP, duas bitucas são suficientes para contaminar um litro de água.

Se levarmos em conta que a vida útil do filtro de cigarro (a tal bituca) é de 2 a 5 anos no ambiente, se ninguém se conscientizar, as crianças da foto se tornarão adultas e continuarão fazendo imagens como aquela…

 

Fonte: G1