Manipulação, a gente também vê por lá

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O Public Health England (PHE), entidade de saúde pública da Inglaterra, divulgou um relatório que encorajava os oito milhões de fumantes do país a trocarem seus cigarros convencionais pelos eletrônicos, o popular e-cig. O documento afirmava que a versão tecnológica é 20 vezes menos prejudicial do que a tradicional, alegando que usar o vaporizador é 95% mais seguro do que fumar tabaco.

No entanto, especialistas de saúde alertaram, em outro artigo, desta vez publicado na respeitada revista médica The Lancet, que o relatório baseou-se em um estudo de 2014 conduzido por cientistas financiados pelos próprios fabricantes desses dispositivos.

Acusando o PHE de falhar em cumprir sua missão de proteger a saúde pública, os médicos afirmam que o PHE fundamentou uma “grande conclusão” em uma “base extraordinariamente frágil”. E revelaram que três dos 11 autores do estudo são financiados pela indústria do e-cig.

Segundo os editores da revista European Addiction Research, que publicou a pesquisa ‘comprovando’ que usar cigarros eletrônicos é seguro, eles incluíram um aviso ao lado do texto informando sobre um “potencial conflito de interesses” no estudo. O PHE, porém, não fez o mesmo alerta quando apresentou as conclusões a jornalistas, em Londres.

Isso porque a entidade estimou que, se todos os fumantes na Grã-Bretanha trocassem seus cigarros convencionais para os vaporizadores, cerca de 75 mil vidas poderiam ser salvas por ano. Como até agora nenhuma marca de cigarro eletrônico foi licenciada pela agência reguladora de medicamentos e produtos de saúde (MHRA) ou pelo Instituto Nacional para Saúde e Cuidados (Nice), o órgão pediu para que tais dispositivos, uma vez regulados, sejam prescritos para os pacientes no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) que desejam parar de fumar.

Existem vários estudos atestando que os aromas usados nos cigarros eletrônicos podem causar problemas respiratórios e danificar o sistema imunológico e que tais atrativos podem, na verdade, incentivar os jovens a começarem a fumar. Em agosto de 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que a utilização desses dispositivos deveria ser proibida em ambientes fechados, já que eles podem ser tão tóxicos para os fumantes passivos quanto os cigarros normais.

No mesmo relatório, a OMS também afirmou que os fabricantes devem ser impedidos de anunciar seus produtos como métodos para abandono do tabagismo até que as empresas forneçam evidências científicas que apoiem a afirmação. Um novo documento, emitido em outubro de 2015, atestou que a maioria dos produtos não tinham sido testados cientificamente e advertiu que a nicotina presente nos aparelhos pode contribuir para doenças cardiovasculares, neurodegeneração e crescimento de tumores. Como conclusão, o relatório determinou que os e-cigs representam ameaças particularmente graves para os adolescentes.

 

Fonte: O Globo