Amor e empatia – uma história de recuperação

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Em outubro de 2014, o advogado Piti Hauer publicava seu primeiro artigo na coluna “Vamos falar sobre Drogas?”, do Paraná Portal.

De lá para cá forma mais de 60 artigos publicados e algumas entrevistas que geraram a expressiva marca de mais de 50 mil compartilhamentos e algo na casa de dois dígitos de milhão em visualizações.

Para comemorar estes números, Piti resolveu não falar sobre drogas, mas apresentar uma crônica sobre recuperação. Desta forma, o autor presta uma singela homenagem à todos aqueles que dispensam e empregam, voluntariamente ou não, o cuidado e o amor para com o dependente químico.

Eis o texto:

O tempo não a preocupava… frio, chuva, calor infernal, nada a fazia desistir de ir todos os dias, de segunda a segunda em uma Comunidade Terapêutica para conversar, mais ouvir e escutar do que falar, com os acolhidos que lá estavam em tratamento.

Vinha de longe, pegava dois ônibus e sempre alegre, nos olhos um brilho de animação ao chegar e de satisfação ao sair. Voluntária na Comunidade Terapêutica e cursando Assistência Social, a pequena senhora de seus 70 anos nunca se atrasava, chegava, metodicamente, meia hora antes para “bater um papinho”, como ela mesma afirmava, com a equipe da casa. Amável com todos e afetuosa em seus gestos não dispensava um tempinho a quem quer que fosse, em qualquer momento, desconhecia os termos “daqui a pouco”, “já vai”, “falamos mais tarde” ou “agora não”.

Levava a todos os acolhidos, paz, felicidade e bom humor em meio a angústia e ao tormento, calor humano e empatia ante aos gritos mudos da dor e aridez de sentimentos encobertos dos que lá buscavam uma recuperação em suas vidas.

Num desses dias, conversando com ela, perguntei quantos filhos ela tinha e se algum já tinha tido algum envolvimento com drogas. Parou, olhou com contentamento e satisfação e respondeu: – Depende e todos.

-Como assim? Depende e todos? – retruquei em seguida.

Com sua voz calma e serena explicou: – Meu filho, não tenho filhos biológicos, minha família são vocês, então, depende, pois não sei quantos vão estar aqui em tratamento a cada dia que venho, mas todos que aqui se encontram sempre os considerarei e os amarei como meus filhos e, lógico, todos, pois se aqui buscam uma motivação e se reencontrar é porque, em algum momento, fizeram uso de drogas.

 

Empatia é a capacidade que possuímos de entender a emoção dos outros. É a compaixão pela dor psicológica do outro, é o saber ouvir sem julgar, é ter paciência mesmo cansados, é o estar perto muitas vezes em silêncio, mas é necessário sempre que seja de coração para coração.

 

 

perfil 3PITI HAUER é advogado com formação pela UFPR e habilitação específica em Ciências Penais, especializando-se em Dependência Química na UNIFESP, 1º Vice-Presidente da FEPACT – Federação Paranaense das Comunidades Terapêuticas, Membro do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas no Paraná (2014-2015), Colunista do Paraná Portal – “Vamos falar sobre Drogas?”, colaborador do site “Para Entender a Dependência Química” e com Curso de Extensão ao Crack: Tratamento e Políticas Públicas pela UNIAD.