Cannabis, seus sintomas psicóticos, seus efeitos psicológicos

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A esquizofrenia é um distúrbio mental caracterizado pela perda de contato com a realidade, alucinações (audição de vozes), delírios, pensamentos desordenados, índice reduzido de emoções e alterações nos desempenhos sociais e de trabalho. Apesar de afetar cerca de 1% da população mundial, a causa exata do transtorno ainda não é conhecida, mas estudos sugerem que ele seja uma combinação entre fatores genéticos e ambientais.

No campo da genética, pesquisadores da Escola de Psicologia Experimental da Universidade Bristol, no Reino Unido analisaram fatores que podem prever se uma pessoa é suscetível a usar cannabis e também sua suscetibilidade à esquizofrenia.

A pesquisa publicada recentemente no periódico científico Psychological Medicine comprovou que começar a fumar maconha pode sim aumentar o risco de esquizofrenia, mas, em especial, uma pessoa que carrega genes associados à doença está mais propensa a se tornar usuária da droga e a fazer isso de forma abusiva.

Neste outro estudo, cientistas do King’s College de Londres também relacionaram o hábito de fumar com o desenvolvimento da esquizofrenia. Mas, aqui, trata-se do cigarro comum.

Com relação à maconha, outros estudos já haviam mostrado que o consumo de maconha é mais comum em pessoas com psicose do que entre a população em geral e que, em muitos casos, esse hábito também pode aumentar o risco de sintomas psicóticos. O uso da droga já foi associado a sintomas do distúrbio, como paranoia e pensamentos delirantes, em até 40% dos usuários.

No início de 2016, de acordo com o site especializado Medical News Today, pesquisadores alertaram que pessoas jovens que usam cannabis poderiam aumentar seu risco de desenvolvimento de problemas psicóticos. Além disso, pessoas com esquizofrenia parecem ter uma maior chance de experimentar sintomas psicóticos ao usarem a droga. E dois dos constituintes da cannabis, o tetrahidrocannabinol (THC) e o canabidiol (CBD), podem ser os responsáveis por esses efeitos.

De acordo com o Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas dos Estados Unidos (Nida, na sigla em inglês), enquanto a intoxicação por THC tem sido associada com experiências psicóticas transitórias, o CBD não desencadeia alterações mentais e pode ter potencial como uma medicação. Entretanto, a maconha “recreacional” tem um alto teor de THC e baixo de CBD, daí sua provável contribuição para o aumento de sintomas psicóticos em pessoas propensas à esquizofrenia.

Um das possíveis explicações para essa relação, segundo os autores deste novo estudo, é que os fatores genéticos para a esquizofrenia são mais fortes do que aqueles para o uso da cannabis. Segundo Marcus Munafò, coautor do estudo, “certos comportamentos ou sintomas associados ao risco de esquizofrenia podem ser aliviados pelos efeitos da cannabis”. Ou seja, o consumo de cannabis pode ser uma espécie de automedicação nessas pessoas.

Ele explica que outra possível explicação é que “as pessoas com maior risco de esquizofrenia podem desfrutar mais dos efeitos psicológicos da cannabis. Há um consenso crescente de que o consumo de cannabis pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia. Nossos resultados apoiam isso, mas também sugerem que aqueles com maior risco de esquizofrenia podem ser mais propensos a experimentar cannabis”.

 

Fonte: Revista Veja