Necessidade física e psicológica de fumar – o que fazer?

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Segundo o dr. Feres Chaddad, neurologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo (CRM 89100), a resposta aos componentes do cigarro é cerebral. Isso porque, no instante em que se dá uma despretensiosa tragada, junto com a fumaça que vai da boca aos pulmões, um grupo diverso de ações se desencadeia no corpo – entre elas, a rápida sensação de bem-estar, quase um aconchego na rotina corrida da vida.

Essa sensação prazerosa quase imediata desempenha importante papel no entendimento do que é a dependência, mas os gatilhos que levam alguém a fumar pela primeira vez e levar adiante um hábito que se torna vício vão ainda mais além. Entendê-los é parte essencial do processo de quem planeja parar.

A reação do corpo à ausência contínua do cigarro pode variar entre os fumantes, mas há sintomas comuns, em menor ou maior grau. Entre eles estão tristeza, depressão, irritabilidade, insônia e/ou sonolência. Há, também, quem troque o ato de fumar por comer ou beber em excesso.

Chaddad alerta que o “grau de fissura é diferente para cada pessoa, mas é pior para quem fuma o primeiro cigarro do dia cinco minutos após acordar, tem o costume de fumar muito pela manhã, não consegue evitar fumar em lugares proibidos, fuma mais de 30 cigarros por dia e fuma insistentemente até mesmo quando está doente. Nesses casos em que a sensação de prazer do cigarro é muito avançada, a síndrome de abstinência aparece de forma bem mais alarmante”, ele explicou ao jornal O Globo.

Apenas após os 30 primeiros dias a dependência psicológica tende a diminuir. E uma melhora significativa ocorre até o terceiro mês. Enquanto isso, “é preciso cuidado ao entrar em contato com situações, emoções ou comportamentos anteriormente relacionados ao cigarro, como tomar café ou consumir bebida alcoólica, por exemplo. O indivíduo pode trazer à tona o sabor, o cheiro e a sensação que o cigarro gera, o que faz ressurgir abruptamente a vontade de fumar”, completa o médico.

Para lidar com a necessidade física e psicológica de fumar os tratamentos vão de medicamentos para uso externo e oral a até psicoterapia e atividades como meditação ou yoga, por exemplo. Cada caso é um caso e deve contar com apoio e acompanhamento de profissionais como pneumologistas, psiquiatras e psicólogos.

O dr. Chaddad enumera o tratamento medicamentoso com a terapia de reposição de nicotina (TRN); o apoio de outras medicações que auxiliam no processo da dependência; a terapia focada em estratégias para identificar e modificar comportamentos e crenças relacionadas ao fumar, bem como motivar o indivíduo a manter o foco no seu objetivo, como algumas das melhores recomendações.

A TRN, por exemplo, consiste em administrar doses controladas de nicotina, progressivamente menores, de 8 a 12 semanas, com o objetivo de diminuir os sintomas da abstinência e a intensidade da fissura.

O neurologista da Beneficência Portuguesa também enumera algumas crenças comuns que precisam ser desconstruídas, colaborando no projeto pessoal de parar de fumar. São elas:

1 – “Parar de fumar pode engordar”. Conforme já mostramos aqui, o ganho de peso pode estar associado a diversos fatores, como redução de metabolismo, melhora do olfato e do paladar,o que faz com que aumente o prazer em se alimentar. Assim, se faz necessário ter disciplina com a dieta, mas isso não é exclusividade de quem fuma. E o benefício de parar de fumar é maior do que o pequeno aumento de peso, caso ocorra.

2 – “Fumar é o meu único prazer”: o cigarro costuma ser uma válvula de escape para muitos, mas é possível encontrar outros prazeres, até mesmo por meio da atividade física.

3 – “Fumar ajuda a lidar com o estresse”: o cigarro não possui nenhuma substância relaxante e não resolve nenhum problema do dia a dia. Praticar esportes e ter uma alimentação saudável é mais eficaz, conforme já apresentamos neste artigo.

4 – “A vontade de fumar não vai embora nunca”: a fissura em si dura de 2 a 5 minutos, no máximo. Respire fundo. É possível sentir o desejo intenso de fumar, mesmo após muitos anos de abstinência. No entanto, quanto mais o tempo passa, mais a frequência e a intensidade da vontade diminuem. O importante é viver um dia de cada vez.

 

Fonte: O Globo