As diferenças entre os gêneros na questão da dependência química

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Diversas pesquisas apontam que o consumo de álcool entre as mulheres brasileiras tem aumentado, segundo o observatório Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).

De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, entre 2011 e 2016 a frequência de episódios de uso abusivo de álcool (BPE – Beber Pesado Episódico) aumentou entre as mulheres de 4,6% para 13%. O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, feito em 2014, também indica o aumento desse tipo de episódio no Brasil.

O problema é que, na prática, as mulheres acabam tendo menos sucesso nos tratamentos do que os homens.

Para especialistas, o principal motivo é que, na maioria das vezes, o tratamento ainda é feito de um ponto de vista masculino e voltado para os homens, sem levar em consideração questões específicas das mulheres, como a hormonal, que é diferente.

A pesquisadora Kátia Varela Gomes fez um estudo no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) sobre dependência química e gênero. Ela acompanhou grupos de apoio a dependentes químicos e descobriu um ambiente hostil e tóxico para mulheres que buscam combater seus vícios. “Fiquei chocada ao ver que as frases que os homens falavam eram exatamente as mesmas que eu havia encontrado na literatura (científica): ‘mulher quando usa droga fica facinha’, ‘se é feio para homem beber, imagina para a mulher’, etc”, afirma a psicóloga.

Primeiro, as mulheres se calavam. Depois de algumas semanas, desistiam do tratamento.

Segundo os especialistas, outro fator a enfraquecer o tratamento é a solidão à qual as mulheres que têm algum tipo de vício são expostas: Das cerca de 50 mulheres em tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) de Guarulhos, na grande São Paulo, só duas têm companheiros que as ajudam. O problema é o mesmo na Clínica Greenwood, na capital paulista. “Uma mulher lutando conta a dependência muito raramente vai ter o apoio do companheiro. Até a família julga mais e apoia menos quando a paciente é mulher”, explica o psiquiatra Cirilo Tissot, especialista em dependência química e diretor da Greenwood. Para ele, as descobertas científicas de que vícios estão relacionados a desequilíbrios químicos do corpo foram mudando a visão sobre o tema ao longo do tempo, mas que o julgamento moral sobre as mulheres permanece até hoje.

Nos Estados Unidos, centenas de pesquisas apontam as diferenças entre os gêneros na questão da dependência química.

Segundo uma revisão da literatura científica publicada por pesquisadoras como Shelly F. Greenfield, da Escola de Medicina de Harvard, e Susan M. Gordon, da Universidade do Arizona, estudos feiros entre 1990 e 2005 já indicavam que as mulheres com a patologia têm menor chance de obter tratamento adequado.

 

Fonte: Leticia Mori via BBC Brasil