Não usar drogas e nem beber é algo perfeitamente aceitável

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Mostramos nesta matéria que, em 20 anos, os jovens da Islândia, de maiores consumidores de drogas e álcool de todo o continente europeu, hoje são considerados os mais conscientes de toda a Europa no tocante aos cuidados com a própria saúde.

Entretanto, para Chloe Combi, escritora e ex-professora do ensino médio da Inglaterra, esta reviravolta pode estar ligada à geração conhecida como “Z”.

Combi entrevistou dois mil adolescentes para seu livro Generation Z, de 2015, e falou com eles sobre sexo, relacionamentos, família, escola, crime e saúde, ligando essas questões ao uso de drogas. O resultado do cruzamento de todas as informações deu à pesquisadora uma visão única sobre o que move a geração do Snapchat.

As entrevistas de Combi apontaram por que bebida e drogas são cada vez mais rejeitadas por essa geração. Assim como na Islânida, duas décadas de educação antidrogas, antifumo e anti-álcool hardcore tiveram seu efeito, aponta ela. “A maior influência para os garotos são outros garotos. Não é estranho dizer ‘Não uso drogas nem bebo’. É algo perfeitamente aceitável agora”, afirma.

Em seu livro, muitas das referências às drogas não são sobre o uso dos próprios adolescentes, mas sobre os hábitos de álcool e drogas frequentemente problemáticos dos pais. Isso funcionou como um alerta para a nova geração: muitos se afastaram das drogas por causa dos modelos em casa. “Era algo que sempre surgia, centenas de garotos disseram que se preocupavam com os hábitos de consumo de álcool dos pais”, diz ela. “Muitos disseram que os pais bebiam demais, de exageros ocasionais ao próprio alcoolismo”.

Outro fator que teve um papel importante nessa aparente mudança de comportamento é o uso de smartphones que aumentaram o que Combi chama de “socialização isolada”, o que leva a menos consumo de álcool e drogas. Ainda assim, um dos impactos cruciais no consumo de drogas e álcool, segundo ela, veio com às redes sociais que criaram um nível totalmente novo de vaidade. “Vivemos numa sociedade cada vez mais consciente de sua imagem. É tipo ‘não use drogas, coma couve’. Os adolescentes acham que se não beberem ou usarem drogas, se ficarem em casa tomando suco verde e meditando, eles serão bonitos e terão um cabelo brilhante”, algo que fica muito bem numa selfie.

Além disso, os círculos sociais da Geração Z não são apenas um grupo de amigos, mas potencialmente um exame de paparazzi adolescentes, com muito menos limites morais que os profissionais. Assim, tudo que os adolescentes fazem “está sendo filmado, e eles sabem muito bem que cair na net bêbado não pega bem. Então isso afasta as pessoas do álcool e das drogas. Há uma cultura de humilhação de quem bebe e usa drogas na mídia, e essa humilhação social filtrou os garotos. Se eles enchem a cara numa festa, é muito provável que isso vá parar no Instagram ou Snapchat. Adolescentes sempre foram cruéis, e a maioria dos garotos que passarem por alguém desmaiado numa festa hoje em dia vão tirar uma foto”.

Será, então, que bebida alcoólicas e drogas vão pelo mesmo caminho que o cigarro, que, segundo a previsão de especialistas, estará totalmente obsoleto entre adolescentes nos próximos 20 anos?

“Enquanto as pessoas se tornam mais educadas e conscientes de sua saúde, esse tipo de tendência vai continuar”, diz Combi.

Apesar das drogas ilegais estarem mais disponíveis do que nunca, seja na internet ou nas ruas, e até mesmo sendo mais aceitas socialmente, com punições menos severas para o uso, todas as evidências mostram que fumar, beber e usar drogas são hábitos em queda livre. No meio dos anos 80, 55% dos adolescentes de 11 a 15 anos já tinham fumado cigarro, e 62% já tinham bebido álcool. Hoje, 18% já fumaram cigarro e 38% usaram álcool. A proporção de adolescentes entre 11 e 15 anos que já usaram qualquer droga ilegal caiu pela metade desde 2001, de 29% para 15%.

 

Fonte: Vice Brasil