A maconha entre a ciência e a sociedade

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A maconha aparece na sétima posição em uma lista das substâncias mais prejudiciais à saúde dos indivíduos, atrás de drogas legalizadas, por exemplo, como o álcool – a primeira do ranking. “Isso não significa que a maconha não provoca danos. eu disse que ela produz menos danos do que outras drogas”, afirmou o médico psiquiatra Hercílio de Oliveira durante o café filosófico CPFL sobre “maconha, entre a ciência e a sociedade”. O programa é parte da série “Do prazer à adicção: as drogas no mundo contemporâneo”, que tem a curadoria do psiquiatra da USP Arthur Guerra.

A maconha, segundo o especialista em dependências de drogas pelo Centre of Addictions and Mental Health, pode causar problemas físicos e psíquicos. “Para alguns usuários com pré-disposição, como filhos de pais com transtorno de bipolaridade, o uso de maconha aumenta a chance de desenvolver surtos psicóticos”, disse Hercílio.

Em sua apresentação, ele tratou de desmistificar alguns mitos relacionados ao uso da droga. Contestou, por exemplo, o discurso comum dos pais que usavam drogas nos anos 1960, segundo os quais não havia mal em fumar maconha. O psiquiatra afirmou que a potência da maconha é maior hoje do que antigamente. Na década de 60 tinha em média 2% de THC; hoje são 15%.

De acordo com Hercílio, a dependência de maconha também causa sofrimento, mas nem sempre o usuário busca ajuda. Quanto maior a proporção de THC, lembrou, maiores os sintomas e maior a dependência.

“As pessoas têm reações diversas diante das substâncias. mas muitos usam apenas para lidar com a ansiedade.”

Hercílio explicou por que o usuário é associado como um mau aluno ou alguém pouco afeito ao trabalho. “Isso tem a ver com o prejuízo cognitivo associado a quem é usuário crônico de maconha. Há quem diga que quando alguém interrompe o uso da maconha, os prejuízos continuem. outros dizem que ele se recupera.” Ele afirmou também que quem usa maconha antes dos 15 anos tem 5 vezes mais chances de se viciar em outras drogas.

O especialista analisou, em sua fala, as experiências de alguns países que liberaram o uso de maconha, caso do Uruguai e de alguns estados dos EUA. O pano de fundo desse debate, afirmou, é até que ponto o estado pode interferir nas nossas decisões. “a sociedade brasileira é conservadora. 80% da população é contra a liberação da maconha. por isso esse tema é driblado na campanha presidencial.”

Também de acordo com o especialista, o tráfico não acaba com a liberação da maconha. “o traficante vai vender um produto mais forte ou um produto mais barato. o álcool e o tabaco são liberados, e ainda assim existe contrabando.”

Ele afirmou, no entanto, que Brasil ainda não calibrou a lei do uso de drogas. “A lei do álcool é muito permissiva.”

Sobre a liberação, ele reiterou: “é preciso levar em conta que a legalização vai aumentar o consumo e os casos de psicose de quem tem tendência. E não vai diminuir o uso de outras drogas”.

Assista, abaixo, ao vídeo da palestra na íntegra. Ou em sua versão resumida (Tv Cultura).

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Fonte: CPFL Cultura