Aqui o problema é outro

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aprendemos aqui que a heroína é derivada do ópio, uma droga originária da Ásia que já era conhecida na Europa há milênios quando um tratado proibiu sua comercialização, em 1912. Produzida através da mesma planta, a papoula, a heroína foi sintetizada pela primeira vez pelo químico britânico Charles Romley Alder Wright, no fim do século 19.

Durante mais de uma década a empresa farmacêutica Bayer distribuiu heroína como remédio para dor nos Estados Unidos e na Europa, até o ano de 1910, quando relatos de que a substância era viciante levaram também à sua proibição. A partir daí, ela continuou a ser produzida ilegalmente e se tornou um problema na Europa. Nos anos 1970 um grande mercado para a heroína se formou nos EUA.

Na primeira década dos anos 2000, como o controle para a compra de opiáceos farmacêuticos eram frágeis, os EUA viram eclodir o número de dependentes dessas substâncias. Ao reconhecer a gravidade do problema, o governo estabeleceu normas mais rigorosas para a venda desses fármacos. Foi aí então que uma grande quantidade de consumidores migrou para o mercado clandestino em busca de efeitos similares na heroína e nas novas misturas. Resultado: hoje os Estados Unidos vivem uma epidemia de opiáceos tão devastadora quanto o boom da heroína do último terço do século passado.

Também na Inglaterra, no país de Gales e na Escócia, o número de mortes por overdose de heroína dobrou nos últimos cinco anos – e é hoje o maior por ano desde que o governo começou a medir.

Mas o Brasil escapou ileso da droga.

De acordo com Guaracy Mingardi, especialista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e ex-subsecretário nacional de segurança pública, o menor número de rotas entre Brasil e Ásia ajudou a inibir a disseminação da droga e nosso país acaba recebendo heroína muito raramente – e a preços muito mais altos. Aqui a droga custa algo em torno de U$ 150 (R$ 450) por 1g enquanto uma pedra de crack custa em torno de R$ 10. Além disso, o crime organizado brasileiro também não parece ter estratégias ou escala de distribuição de opioides.

Outro fator a ser levado em conta é que os brasileiros não têm um alto consumo de remédios anestésicos como os americanos. E, como já vimos aqui, o hábito de consumir opioides legais acaba levando muitas pessoas ao vício.

No Brasil o problema é outro, como mostra o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas feito em 2012 pela Unifesp. Os resultados apontam que 1,8 milhão de pessoas já haviam experimentado crack no país, enquanto a cocaína havia sido usada por 5,6 milhões. O estudo da Unifesp não cita a heroína. Já a Pesquisa Nacional sobre o Crack feita pela Fiocruz em 2013 revelou que havia cerca de 370 mil usuários regulares de crack nas capitais. De acordo com este estudo, só 0,84 dos usuários de crack já experimentaram heroína e outros opioides.

A heroína é uma droga depressora. Gera uma sensação de euforia intensa seguida por um período de sedação, e é rapidamente viciante. Usada continuamente, causa insônia, disfunção sexual, enfraquecimento do sistema imunológico e pode desencadear doenças psicológicas e lesões cerebrais. Conforme o corpo se acostuma com a substância, necessita de doses cada vez maiores para obter a mesma sensação – por isso a droga tem um alto índice de overdose.

 

Fonte: G1