A ignorância não é uma benção

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É difícil convencermos os adolescentes dos efeitos nocivos e potencialmente mortais do abuso de drogas. Afinal de contas, eles têm um senso exagerado de invulnerabilidade: “Nada de ruim vai me acontecer, eu controlo as drogas, paro quando quiser, é só uso recreacional”, são algumas das frases que mais escutamos. E, independentemente do que alguém diga, pensam que sabem tudo e querem fazer tudo o quanto mais cedo possível.

Mas o que acontece quando não são mais adolescentes? O que acontece quando percebem que não são tão invencíveis depois de “tudo” ou quase tudo?

A ignorância não é uma benção, como muitos afirmam, e principalmente no que diz respeito ao abuso de álcool e drogas e à dependência química.  Quando a credulidade obscura, desconhecida e feliz da juventude desaparece eles, inesperadamente, começam a notar os efeitos e as consequências do abuso de drogas lícitas e/ou ilícitas, muitas delas duradouras, de uma vida despreocupada e descuidada. Infelizmente, no momento em que descobrem isso, o dano já foi feito.

O abuso de substâncias na adolescência pode mudar o cérebro de maneiras devastadoras, isto é fato, comprovado cientificamente. Algumas drogas têm efeitos tóxicos que podem matar neurônios, e, como resultado, algumas partes do cérebro ficam irreparavelmente danificadas. Como adultos, nós nos encontramos lutando com perda de memória, dificuldades de aprendizagem, concentração e, até mesmo as tarefas diárias simples. E com o abuso de drogas, mentalmente falando, nós nos tornamos velhos antes de nosso tempo.

Se as resultantes parassem por aí já teríamos um prejuízo. Em longo prazo, mas inevitável, entretanto, existem ainda outras inferências com o abuso de drogas que, por muitas vezes, nem sequer projetamos ou conjecturamos. Saiba quais, a seguir:

 

1 – CONSEQUÊNCIAS LEGAIS

Dirigir alcoolizado ou sob influência de outras drogas retarda sua percepção cognitiva, seus reflexos ficam mais lentos e sua resposta a uma situação crítica é tardio. Mais de 35 mil pessoas, somente no Brasil, morrem todo o ano em decorrência do uso de álcool ao volante; e os causadores destas situações podem perder a carteira de motorista, responder judicialmente, na maioria das vezes, por crime culposo e ter sua vida completamente modificada por um instante de imprudência e negligência comportamental. No que concerne à Lei 11343/06, o art. 28 apenas despenaliza o usuário, estabelecendo penas restritivas de direito, mas como este critério é muito subjetivo e não há no texto de Lei norma que defina a quantidade de drogas que o usuário pode ter consigo para consumo pessoal, ele poderá responder pelo artigo 33 (tráfico).

 

2 – DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO

Estudos mostram que o uso de drogas impede o desenvolvimento psicológico de um indivíduo, resultando em  uma adolescência prolongada. A falta do desenvolvimento psicológico afeta negativamente relacionamentos, carreiras, habilidades de enfrentamento e habilidades sociais.

 

3 – GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA

Jogando a precaução para o vento, comportamentos de risco são comuns na adolescência. Um dos muitos é o sexo desprotegido, o que pode resultar em imprevistos, tais como a maternidade e paternidade. A gravidez na adolescência, nos EUA, é responsável por mais de US $ 9 bilhões por ano em custos de cuidados de saúde e assistência social (maravilhoso seria se tivéssemos estes valores disponíveis aqui no Brasil). Isto sem mencionar que mães adolescentes são mais propensas a abandonar a escola, ter problemas de saúde e desemprego.

 

4 – IMATURIDADE EMOCIONAL

Adolescentes que são incapazes de lidar com as suas emoções, muitas vezes, transformam o álcool e as drogas em uma forma de mascarar sua dor e fugir da realidade.  A incapacidade para enfrentar de forma adequada e resolver conflitos, comunicar-se eficazmente, ou definir e respeitar limites pessoais mutila a capacidade de crescimento. Como resultado, encontramos adultos emocionalmente deficientes.

 

5 – DESEQUILÍBRIO QUÍMICO

As drogas afetam equilíbrios químicos delicados em nossos cérebros, porque o cérebro humano não atinge a plena maturidade até meados dos vinte anos, e a exposição ao álcool e outras drogas na adolescência muitas vezes podem levar à ansiedade, depressão e outros transtornos mentais na idade adulta.

 

6 – IMPOTÊNCIA SEXUAL E INFERTILIDADE

Por mais que o álcool e outras drogas possam ter ajudado adolescentes a terem um maior prazer em alguns momentos, este devaneio pode ter um efeito negativo sobre a capacidade de desfrutar de uma vida sexual saudável vibrante como adultos. Além de causar danos aos órgãos e sistemas necessários para os homens para obter e manter uma ereção, ele também pode diminuir a contagem de espermatozoides saudáveis e interromper a ovulação e ciclos menstruais.

 

7 – DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE MENTAL

O álcool e outras drogas podem ocasionar o delírio (diminuição da capacidade de prestar atenção, a pessoa fica desorientada e é incapaz de pensar com clareza) e a demência (decadência da capacidade mental em que a memória, a reflexão, o juízo e a concentração são afetados). Segundo várias pesquisas o tipo de droga usada na adolescência interfere no raciocínio, atenção e concentração.

 

Adaptação e Tradução: Piti Hauer a partir de artigo publicado no site DrugAbuse.

 

perfil 3PITI HAUER é advogado com formação pela UFPr e habilitação específica em Ciências Penais, especializando-se em Dependência Química na UNIFESP. 1º Vice-Presidente da FEPACT – Federação Paranaense das Comunidades Terapêuticas, Membro do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas no Paraná (2014-2015), Colunista do Paraná Portal – “Vamos falar sobre Drogas?”–, colaborador do site “Para Entender a Dependência Química” e com Curso de Extensão ao Crack: Tratamento e Políticas Públicas pela UNIAD.