Insônia afeta neurônios tal qual o álcool

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O Natal e o Réveillon chegam sempre acompanhados de muitas festas e confraternizações. É um período de excessos: muita comida, muita bebida e muito tempo acordado. O resultado do somatório disto é o comprometimento da saúde: dormir pouco, comer demais e ingerir bebida alcoólica abusivamente desgasta o corpo e a mente.

O excesso na alimentação é um vilão do sono e deve ser evitado. Ingerir comidas pesadas e gordurosas não é a melhor escolha, principalmente quando o consumo é feito pouco antes de dormir. Quem sofre de apneia e opta por essa forma errada de comer, pode apresentar sono agitado e ronco.

No caso das bebidas alcoólicas, dos refrigerantes à base de coca, café e energéticos, o excesso na ingestão estimula o sistema nervoso central e acaba por atrasar a vinda do sono. O álcool também favorece o relaxamento muscular e com isso os músculos da região da garganta e a língua sofrem um relaxamento excessivo, causando aumento no índice de ronco e apneia.

Mas não para por aí.

Segundo um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, e da Universidade Tel Aviv, em Israel, as consequências da privação do sono podem ser ainda mais graves: quem não dorme o suficiente pode apresentar lapsos de memória e uma percepção visual distorcida devido a uma falha de comunicação temporária entre os neurônios, de forma semelhante à embriaguez. E tão perigosa quanto.

Publicado na renomada revista científica Nature, o estudo acompanhou 12 pessoas com epilepsia. Elas possuíam eletrodos implantados no cérebro como forma de registrar com que frequência as convulsões ocorrem e onde elas têm origem no cérebro. As convulsões foram induzidas pela privação do sono como parte da avaliação do estudo. Para monitorarem a atividade elétrica no cérebro e identificarem padrões, os participantes permaneceram acordados durante a noite até chegarem a um episódio convulsivo. Já no experimento, os participantes receberam uma tarefa na qual eles tiveram que ordenar diferentes imagens em determinadas categorias o mais rápido possível. Enquanto isso, os cientistas procuraram avaliar a atividade cerebral do lobo temporal, que está associado à memória e ao reconhecimento visual. Com isso, eles perceberam que quanto mais cansados e sonolentos os participantes ficavam, mais difícil a tarefa se tornava e pior eram suas performances.

Com a falta de sono, as células do cérebro tornam-se mais lentas, comprometendo a comunicação neural, explicou Yuval Nir, principal autor do estudo: “Normalmente, a reação dos neurônios é rápida, mas nesses indivíduos as transmissões neurais demoraram mais”.

De acordo com os pesquisadores, a insônia afeta a forma como os neurônios codificam as informações e como os estímulos visuais são lidos. Segundo Itzhak Fried, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, “a falta de sono exerce uma influência similar ao álcool no cérebro”. Ele lembra que estudos anteriores já mostraram que quando um motorista está cansado, por exemplo, a atenção vagueia, pois os neurônios não estão respondendo com a eficiência que deveriam. “No entanto”, disse Fried, “não existem padrões legais ou médicos que identifiquem o cansaço dos motoristas do mesmo modo que conseguimos identificar a influência do álcool na direção”.

Além disso, os pesquisadores também identificaram que as células cerebrais que levaram mais tempo para responder foram associadas a ondas cerebrais mais lentas, como as que normalmente são registradas durante as fases do sono, e essas atividades reduzidas foram localizadas nas mesmas regiões do cérebro. Fried explicou que estas “ondas lentas do sono interromperam a atividade cerebral dos participantes e seus desempenhos nas tarefas”. Segundo ele, esse fenômeno sugere que “determinadas regiões do cérebro se desligam, causando lapsos mentais, enquanto o resto do cérebro permanece acordado e funcionando como de costume”.

Os pesquisadores informaram que a próxima etapa do estudo irá buscar os mecanismos cerebrais responsáveis ​​pelos lapsos de memória e de percepção, bem como os dos benefícios de uma boa noite de sono.

Enquanto isso, o ideal é organizar-se para que o prejuízo no sono durante as festas de fim de ano seja o mínimo possível. Portanto, tente dormir mais cedo nos dias pós-festas. Quanto às as crianças, por estarem em um período de férias escolares e não terem que necessariamente acordar cedo, os efeitos podem não ser tão graves.

 

Fonte: Revista Veja