Dormir mal também causa larica

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Larica é um termo coloquial para fome, uma gíria da língua portuguesa, de origem incerta, muito associada ao uso de maconha. Isso porque esta droga estimula uma série de controladores celulares, sendo o mais importante um receptor, chamado de CB1, que, segundo pesquisas, ajuda no processo da larica ao ativar neurônios que, em situações normais, fazem você se sentir mais satisfeito.

Apesar disso, ter larica não significa necessariamente que uma pessoa consumiu drogas. Pode simplesmente estar relacionada com uma grande vontade de comer, que muitas vezes acontece por causa, por exemplo, de noites mal dormidas.

É o que diz um estudo publicado recentemente na revista científica Sleep.

O experimento para analisar os efeitos da privação do sono no apetite foi realizado por pesquisadores da Universidade de Chicago. Eles submeteram 14 voluntários com cerca de 20 anos de idade a uma internação de oito dias em um laboratório da universidade. Nos primeiros quatro dias, eles puderam dormir, em média, sete horas e meia por noite. Já nas últimas quatro noites, o tempo de sono foi reduzido para quatro horas e 15 minutos.

Durante todo o estudo eles receberam as mesmas porções de café da manhã, almoço e jantar. No último dia, porém, os participantes relataram sentir fome, mesmo após terem ingerido 90% das calorias diárias recomendadas. Os pesquisadores, então, ofereceram diversos lanches, entre alimentos saudáveis e gordurosos e os quitutes foram mais populares. A ingestão destes alimentos correspondeu a um consumo de calorias 50% maior e duas vezes mais gordurosos em relação aos dias em que eles haviam dormido bem.

Os pesquisadores também mediram os níveis de grelina e leptina, hormônios respectivamente associados ao estímulo do apetite e à sensação de saciedade e, pela primeira vez, do endocanabinoide 2-araquidonoilglicerol (2-AG). Este componente amplifica o desejo pela ingestão de alimentos e faz parte do mesmo sistema que é alvo do ingrediente ativo da maconha. Os resultados mostraram que o 2-AG estava 33% mais alto após os voluntários dormirem pouco.

Normalmente, os níveis de 2-AG atingem seu pico por volta de meio-dia e diminuem ao longo do dia. Entretanto, entre as pessoas que dormem poucas horas, esse índice é mais elevado desde cedo, chegando ao pico por volta das 14h00 e permanece alto até às 21h00, o que aumenta a tentação pelos “lanchinhos” gordurosos.

Ou seja, em resumo, a privação do sono aumentou a vontade por alimentos com excesso de sal, açúcar ou gordura, em um efeito similar ao da fome excessiva ou “larica”. E qual a importância de compreender esse processo para a ciência? Se pesquisadores conseguirem criar um remédio capaz de reverter esse processo, poderia ser o fim da obesidade. Em 2006, uma droga similar foi vendida na Europa. No entanto, ela foi tirada do mercado após ser associada com ansiedade e depressão. Desde então, muitas empresas farmacêuticas relutam em desenvolver remédios baseados no CB1.

 

Fontes: Revista Veja & Wired