Leitura obrigatória da literatura marginal

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Marina Filizola nasceu em São Paulo em 1981. De espírito irrequieto, atuou em diversos campos profissionais. De modelo a artista circense, de campeã de canoa havaiana, a atriz de minissérie global. Apresentou programas de TV, participou do reality show Hipertensão, na Globo, e encarnou a primeira personagem brasileira relacionada ao mundo da internet, a Internética, dos programas “H” e “O Superpositivo”, da Band. Nos últimos anos, decidiu enfrentar a montanha-russa das drogas com a literatura.

Sua obra de estreia é Leite em pó – crônicas de um vício, apresentada como ficção explosiva, baseada na experiência da autora no mundo das drogas.

Neste livro de crônicas, o leitor vai se deparar com a prosa e a poesia ácida e sem filtro de Marina. Dependente química, a paulistana traz para as páginas impressas o delírio, a euforia e a loucura que as drogas lícitas e ilícitas imprimem no dia a dia de quem as consome. Seu papel de profissional, filha, irmã, tia e mãe é borrado, em alguns momentos, pelo efeito dessas substâncias.

Mas Marina não se intimida e coloca tudo pra fora. Como uma metralhadora – por vezes sem vírgula, sem ponto, sem rédeas–, ela cospe no papel sua verborragia aturdida e atormentada, intercalando o psicodélico e o cotidiano. É difícil detectar as fronteiras entre o real e a alucinação.

Apesar da dura realidade de quem luta contra a dependência química – incurável, mas controlável –, o senso de humor também faz parte, principalmente nos textos em que ela faz referência ao filho Logan (como em Mãe-polvo e Aceita que dói menos).

“Dezenove anos atrás eu jamais poderia imaginar que um dia faria parte da gorda fatia de dependentes químicos da nossa sociedade”, escreveu Marina em um artigo da revista Trip.

Marina saiu de casa aos 17 anos, mas já fumava maconha na escola aos 14, na época do handebol, no recreio com os amiguinhos, e fez de tudo um pouco na vida, afundando-se cada vez mais em todo tipo de drogas pesadas que lhe foram apresentadas. Quando estava no auge de seu ofício de atriz e aparições no show business viu de tudo. “Velho, a droga está em todo lugar. Nas festas, nas produções ou nas igrejas. Eu vi todo tipo de gente famosa se drogar pesado, mas não vou dizer os nomes”.

O clique para deixar esse mundo veio com Chico, um inseparável Golden Retriever. “Foi um momento impactante quando Chico passou a não comer e vomitar. Ouvi de um veterinário que ele estava imitando o meu comportamento padrão”, lembra. Esse foi um dos motivos que a levaram a procurar ajuda.

Marina sabe que tem uma predisposição genética incurável, mas percebeu a tempo que tinha que se tratar. “Eu estava no isolamento total, virada há 12 dias. Aí peguei meu carro, usei mais droga, larguei, peguei a bike e fui até o Narcóticos Anônimos. Hoje, aquela toalhinha azul do N.A. (referindo-se a um símbolo do grupo) é a imagem da salvação pra mim”, enchendo a boca pra dizer que está há três anos, cinco meses, 10 dias e pouco mais de 24 horas limpa, depois que começou a frequentar os N.A., jogando tudo para o alto em troca de sua sobrevivência.

Abaixo, uma entrevista que Marina Filizola concedeu ao programa Todo seu, de Ronnie Von na Tv Gazeta:

Fonte: iG Notícias, Revista Trip, TV Gazeta/YouTube