Mídia: do consumo doentio à abordagem equivocada sobre drogas

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Pesquisadores do ICMPA (International Center for Media & the Public Agenda), nos EUA, reuniram centenas de estudantes em 12 universidades do mundo e pediram para que eles não consumissem nenhum tipo de mídia durante 24 horas. Ou seja, eles não poderiam assistir televisão, ler jornais, usar o celular, internet, etc.

Passado o período estipulado, os estudantes foram convidados a contar a experiência e declarar de qual meio de comunicação mais sentiram falta.

De acordo com o resultado do estudo, a televisão foi o veículo mais fácil de abandonar. Já o celular, o que mais causa dependência. Um dos estudantes declarou: “Mandar mensagem para meus amigos me traz uma sensação de conforto. Quando eu fiquei sem, senti como se estivesse excluído da minha própria vida. Embora eu frequentasse uma universidade cheia de alunos, ficar sem comunicação digital foi intolerável”.

E teve participante se dizendo viciado em consumir mídia e ainda admitindo que tal vício é “doentio”.

Outro sintoma que os estudantes que participaram do experimento apontaram foi a perda da noção do tempo. “Nós não apenas encontramos sintomas psicológicos, mas também físicos”, disse Roman Gerodimos, um dos pesquisadores que conduziram o estudo no Reino Unido, ao jornal “Telegraph”. Uma das principais conclusões do estudo chamado de Unplugged foi a semelhança entre a abstinência de drogas e de conteúdo midiático.

Como sabemos, a mídia é um veiculo de comunicação acessível a toda a sociedade, como jornal, rádio, TV e revistas, se constituindo em um dos fatores fundamentais na formação do que se denomina opinião pública. Atualmente, a maior fonte de informação das pessoas são os meios de comunicação e a maioria delas acredita no que vê, lê ou ouve na televisão, nas revistas e nos jornais.

Em relação às drogas, a mídia sempre dá foco ao crack, cocaína e maconha dando a impressão de que essas drogas são uma epidemia sem controle. Porém, vale à pena ressaltar que o Brasil não possui controle sobre outros tipos de drogas, presentes na nossa sociedade diariamente, como álcool e cigarro. Assim, ao assumir um tom pessimista e alarmista a respeito das drogas ilícitas, os meios de comunicação muitas vezes deixam de informar que os maiores problemas com drogas em nosso país, ainda são decorrentes do consumo das drogas lícitas.

Com isso, resta aos pais um controle desmedido da vida dos jovens em detrimento de ações muito mais efetivas, como a aproximação e o diálogo.

Além disso, dependendo da forma de abordagem, a propaganda das drogas lícitas (bebida, cigarro e medicamentos) pode despertar curiosidade entre os jovens, tendo em vista que a mídia sempre reforça os efeitos que as drogas provocam nos indivíduos. Dessa forma, o jovem pode pensar que, se “todo mundo usa”, ele também precisa experimentar pra ser aceito dentro da sociedade. A publicidade de bebidas, apesar de restritas em termos de horário para veiculação, associa o ato de beber com diversão, charme, alegria, aventura, sucesso profissional e aceitação social. Muitas músicas atuais batem e rebatem na mesma tecla: beber é a solução, seja para a alegria ou para a tristeza, o sucesso ou o fracasso.

Obviamente, as referências aos efeitos negativos do consumo dessas substâncias são tímidas (ou apenas inexistem) e acabam por perder-se no conjunto da peça publicitária ou da canção, não constituindo uma verdadeira informação, nem possibilitando uma reflexão a respeito dos supostos efeitos positivos, tão alardeados.

Outro assunto pouco explorado na mídia é a grande incidência de mortes e vícios causadas pelo uso abusivo ou irregular de medicamentos no Brasil, cuja publicidade tem como público alvo a família. As propagandas sobre medicamentos garantem ao usuário bem estar e alivio dos sintomas que a pessoa está sentindo, não se preocupando, desta forma, com as reações adversas e os riscos do uso de medicamentos sem prescrição médica.

Potencialmente a mídia poderia associar-se a campanhas de esclarecimento sobre os riscos do consumo de álcool e de cigarro, mas isto, muitas vezes, entra em conflito com seus interesses econômicos. Desta forma, restam às ONGs (organizações não governamentais) e ao próprio governo divulgar campanhas sobre comportamentos saudáveis, com informações necessárias, verdadeiras e bem formuladas.

Cabe ao governo, também, estabelecer regras que limitem o conteúdo e a veiculação das propagandas de drogas lícitas.

 

Fontes: The Telegraph & site Álcool e Drogas sem Distorção, Programa Álcool e Drogas (PAD) do Hospital Israelita Albert Einstein