“Mortes por desespero” – as ameaças sintéticas se renovam

Tempo de leitura: 2 minutos

Conforme já alertamos, os Estados Unidos vivem uma epidemia de opiáceos tão devastadora quanto o boom da heroína do último terço do século passado. Somente em 2015 foram registradas 33.000 overdoses mortais por consumo de coquetéis de heroína e outros derivados do ópio – 73% a mais que em 2014. E a autoridade sanitária do país adverte que os números vêm aumentando.

Como o mercado da droga está sempre um passo à frente da polícia e da ciência em sua capacidade de inovar, as ameaças se renovam confundindo a lei, a ciência e até mesmo os usuários, que sabem cada vez menos o que estão comprando e colocando no corpo. Convencidos de que estão comprando heroína ou outras misturas conhecidas, expõem-se a substâncias desconhecidas e para as quais não existe o mínimo padrão de segurança de consumo. São cobaias dos laboratórios do narcotráfico.

A nova geração de coquetéis de opiáceos promove uma corrida química voraz que se metamorfoseia cada vez mais rápido e com maior perigo. A última novidade nefasta é uma mistura conhecida pelo significativo apelido de Morte Cinza.

Isso porque a substância tem aspecto similar ao cimento. Já foi encontrada na forma compacta e em pó, e inclui heroína, carfentanil (um entorpecente 10 mil vezes mais poderoso que a morfina. É usado na prática veterinária para imobilizar animais grandes e, por isso, é conhecido como “tranquilizante para elefantes”), um opiáceo sintético denominado U-47700 e fentanil – outro opióide sintético, 50 vezes mais poderoso que a heroína e cem vezes mais que a morfina e que é usado legalmente para tratar dores crônicas. Nos últimos anos, porém, seu consumo abusivo levou a uma série de mortes nos EUA.

A Morte Cinza possui uma toxicidade tão alta que os pesquisadores afirmam que o simples toque representa um perigo real para a saúde, já que o composto é absorvido pela pele. Os consumidores a injetam, engolem, fumam ou cheiram.

De acordo com Deneen Kilcrease, perita em análise forense do Governo da Geórgia, esta é uma “das combinações mais terríveis que vi em 20 anos de profissão”. Se antes os especialistas davam respostas certeiras quando analisavam este tipo de droga, agora não conseguem dizer o que é, tamanho o grau de mistura.

No caso da Morte Cinza, uma dose mortal pode ser comprada na rua por menos de 20 dólares.

Na primeira década dos anos 2000, como o controle para a compra de opiáceos farmacêuticos eram frágeis, os EUA viram eclodir o número de dependentes dessas substâncias. Ao reconhecer a gravidade do problema, o governo estabeleceu normas mais rigorosas para a venda desses fármacos. Foi aí então que uma grande quantidade de consumidores migrou para o mercado clandestino em busca de efeitos similares na heroína e nas novas misturas.

Ligada socialmente à depressão socioeconômica da classe média branca tradicional, a epidemia de opiáceos é conhecida nos Estados Unidos como deaths of despair (mortes por desespero).

 

Fonte: El Pais