Quanto mais bebida, menos memória

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Segundo o psiquiatra Arthur Guerra, supervisor do Grupo de Estudos sobre Álcool e Drogas da USP, a chamada amnésia alcoólica existe e é bem comum.

Quem bebe pouco fica animado, falante e lembra-se de tudo. Com o acúmulo de doses, entretanto, o álcool passa de estimulante a sedativo.

O curioso é que para relembrar o que aconteceu durante uma bebedeira, a pessoa teria que beber de novo já que, de acordo com o neurocientista da USP Gilberto Xavier, a memória de uma pessoa que bebe muito teria uma espécie de ‘senha’ que seria acionada ao se reproduzir as condições em que as memórias foram adquiridas.

Isso explica porque as pessoas recorrem ao fundo do copo quando levam o famoso ‘pé na bunda’, – a sofrida rejeição amorosa. Para corroborar tal teoria, Galit Shohat-Ophir, da Universidade de Califórnia, fez um teste com… moscas!

Esta pesquisadora já sabia da fraqueza destes insetos por álcool. A mosca da fruta (Drosophila melanogaster), especialmente, adora se embriagar, seja pela ingestão direta de bebidas ou de comidas fermentadas. Quando tomam álcool, o cérebro delas reage como o nosso, ativando o sistema de recompensa. E isso torna a experiência prazerosa.

Galit Shohat-Ophir, então, quis saber se sexo e rejeição aumentavam o impulso alcoólatra desses insetos tal qual acontece com as pessoas. Assim, ela e sua equipe, ao longo de quatro dias, colocaram 12 moscas machos para tentar conquistar uma fêmea durante uma hora, três vezes por dia.

Acontece que as fêmeas já haviam acasalado e recusavam os machos.

Enquanto isso, outros 12 machos passaram seis horas por dia ao lado de fêmeas virgens, e se deram bem.

Depois, todos os machos foram colocados em vidros com duas possibilidades de comida: uma com 15% de álcool e outra pura, sem qualquer potencial de intoxicação. Todos consumiram mais ou menos a mesma quantidade de comida, mas os rejeitados se alimentaram quatro vezes mais com a comida embriagante do que os outros.

Galit e sua equipe achou que este resultado, porém, podia ser consequência de falta de sexo, e não ter nada a ver com rejeição. Em uma terceira tentativa, machos foram colocados juntos a fêmeas decapitadas. Nenhum deles conseguiu copular e beberam quase a mesma quantidade que os outros machos rejeitados.

A conclusão é que chegar tão perto de uma cópula que tem tudo para ser bem-sucedida e fracassar mexe com o cérebro dos machos. Mais especificamente com os receptores do “neuropeptídeo F” (NPF). É ele que controla a preferência por álcool e guia o comportamento das moscas para normatizar o sistema de recompensa. Nos machos rejeitados, o nível de NPF estava muito baixo.

Quando os cientistas aumentaram os receptores de NPF nas moscas, elas voltaram à sobriedade normal.

 

Fonte: Ciência Maluca via Superinteressante