Álcool e mulheres: um cenário atual

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Quando são feitas comparações entre homens e mulheres em relação ao consumo de bebidas alcoólicas no Brasil e no mundo, em geral, vemos que os homens bebem mais, com maior índice de abstenção entre mulheres. Talvez, a menor aceitação social e cultural para o consumo feminino funcione como um fator de proteção em nosso país. Entretanto, com o passar dos anos, fatores sociais e culturais sofreram rápidas e profundas modificações e a preocupação com o consumo de álcool entre mulheres é um tema muito presente nos dias de hoje.

Em diversos países, o padrão de consumo de álcool por mulheres caminha para a igualdade em relação ao padrão masculino, o que poderá representar desigualdade nos resultados para a saúde, de acordo com a maior vulnerabilidade delas para as consequências negativas do beber pesado, conforme já apresentamos neste artigo.

De acordo com a OPAS, escritório regional da OMS, na região das Américas:

  • houve aumento na frequência de BPE de 4,6% para 13% nos últimos 5 anos, entre mulheres;
  • a cerveja é a bebida de preferência para a maioria dos 36 países que compõem a região, apesar de em alguns países predominar o vinho ou destilado;
  • o consumo de álcool entre mulheres é menor que entre homens e o tamanho desta diferença varia de um país para o outro. No Brasil, é 3 vezes menor, e por exemplo, na Guatemala, é até 15 vezes menor;
  • a proporção de mulheres que apresentam algum transtorno por uso de álcool equivale a 3,2%, o que representa a maior taxa mundial quando são comparadas todas as regiões, seguida da região composta pelos países europeus.

De acordo com a OMS, estima-se que em 2010, no Brasil:

  • o padrão de risco Beber Pesado Episódico (BPE), ou consumo de 60 gramas ou mais de álcool em uma única ocasião, apesar de ser mais comum entre homens, esteve presente em 11% das mulheres que consomem álcool;
  • cerca de 30% das mulheres nunca beberam, e 12,4% não beberam no último ano.

Segundo o relatório nacional divulgado em 2014, houve aumento importante do consumo de álcool entre as mulheres ao longo dos anos anteriores. Como se pode verificar na tabela abaixo, entre os anos de 2006 e 2012, houve aumento tanto no uso regular como no BPE, que foi definido para mulheres como o uso de quatro ou mais doses em aproximadamente 2 horas.

Ainda, verificou-se que o consumo precoce aumentou: em 2006, 16% dos homens e 8% das mulheres relataram ter experimentado álcool com menos de 15 anos. Em 2012, os dados foram de 24% e 17%, respectivamente.

Entre os principais resultados, verifica-se que o álcool é a substância mais utilizada entre universitários de ambos os sexos, com aproximadamente 90% tendo relatado consumo na vida.

Estudo realizado com adultos da Região Metropolitana de São Paulo mostrou que aproximadamente 22% dos entrevistados eram abstêmios (32% das mulheres e 9% dos homens), 18% fizeram uso pesado de álcool nos últimos 12 meses (26% dos homens e 10% das mulheres).

O maior consumo de bebidas alcoólicas entre mulheres esteve relacionado a maior grau de instrução e melhores condições econômicas.

Embora homens sejam duas vezes mais propensos a fazer uso pesado de álcool que mulheres, houve semelhança entre proporção e tipos de problemas decorrentes do uso, quando trata-se de beber pesado (problemas interpessoais, danos não intencionais, prejuízos sociais, uso continuado apesar dos problemas).

Os autores esclarecem que com a mudança do papel da mulher na sociedade e o direcionamento para uma igualdade entre gêneros – na qual as mulheres estão investindo mais em educação, trabalhando fora de casa, adotando hábitos anteriormente vistos como masculinos, aumentando o consumo de bebidas alcoólicas, as diferenças em relação às consequências do uso do álcool diminuem. Além disso, o aumento de consumo da bebida pelas mulheres pode estar associado ao estresse da dupla jornada de trabalho diário.

Ao longo dos últimos anos está havendo uma convergência do uso de álcool entre os gêneros, com maior aceitação social do uso pela mulher. A vulnerabilidade do organismo feminino perante os efeitos do álcool é algo preocupante e merece atenção em termos de políticas públicas.

O uso excessivo de álcool por mulheres aumenta o risco para câncer de mama, doenças cardíacas, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, além de outros problemas. Mulheres em período fértil que usam álcool e não realizam contracepção correm o risco de causarem danos ao recém-nascido caso engravidem.

Trata-se de um cenário relativamente novo e é preciso direcionar a atenção para medir os problemas associados já conhecidos e possivelmente novos problemas que possam surgir. Os dados acima citados refletem a necessidade de maior conscientização da população geral e consequentemente de investimentos em programas de prevenção específicos e adequados para este grupo.

 

Fonte: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)