Indústria da cerveja deixa de patrocinar ‘open bar’ universitário

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O perigo de festas conhecidas como Open Bar, onde as bebidas são liberadas, é iminente. A preocupação reside, principalmente, em relação ao que pode acontecer não só durante, mas depois dessas festas. O consumo de álcool e drogas em eventos do tipo tem como consequência mais danosa crimes e acidentes de trânsito.

Outra combinação desastrosa, e que em muito favorece a ocorrência de práticas ilícitas, está ligada aos locais onde acontecem essas festas, normalmente afastados, sem segurança, sem alvará e em total dissonância com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Por muito tempo (e, de certa forma, ainda hoje), as pessoas se inibem na hora de fazer alguma denúncia aos órgãos de proteção à criança e ao adolescente. Outras, no entanto, desconhecem os canais de comunicação com a Promotoria da Infância e Juventude e o Conselho Tutelar, só para citar os principais órgãos de defesa.

O alcoolismo na adolescência é um problema constante em famílias com jovens (especialmente entre 15 e 20 anos), e pode ser resultado de diversos tipos de influência externa. Sentem-se instigados ao observar outras pessoas beberem – como numa festa, por exemplo – e iniciam precocemente a ingestão de bebidas alcoólicas. Sentindo-se mais desinibidos, os adolescentes acreditam, assim, que as experiências sociais são mais positivas, como se fosse algo benéfico. Tudo isso por falta de informação, que seria a principal forma de prevenir o alcoolismo.

Já mostramos, neste artigo, que o uso de bebidas alcoólicas entre jovens está crescendo acima da média de outras faixas etárias. Em números absolutos, 57% da população consome álcool, sendo que 78% dos jovens bebem. Destes, 19% são dependentes.

Além da campanha “Cerveja também é álcool”, cujo objetivo é incluir a cerveja na legislação que restringe a publicidade de bebidas alcoólicas, a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (Cerv Brasil), que representa a Ambev, a Brasil Kirin, o Grupo Petrópolis e a Heineken Brasil, deu início à outra campanha, também de alcance nacional, visando interromper o patrocínio a festas universitárias “open bar” em todo o país.

A Universidade de São Paulo (USP), maior universidade pública brasileira, já tinha vetado a realização de festas com consumo de bebidas alcoólicas no ano passado. Os eventos já estavam suspensos desde 2014, após a morte do estudante Victor Hugo Santos, que teve o corpo encontrado ao lado da raia olímpica da universidade. Na Faculdade de Medicina da USP, os eventos também chegaram a ser vetados após alunas denunciarem terem sido estupradas em festas em 2011 e 2013 (neste artigo, mostramos que, entre as as “drogas do estupro” mais comuns no mundo, está o álcool).

Em nota, o grupo Cerv informa que, “a partir de agora, festas com esta característica não receberão apoio ou patrocínio por meio de fornecimento de material promocional – o que inclui mesas, cadeira, coletes, guarda-sol, etc – nem mesmo poderão exibir marcas de cervejas em seu material de promoção, o que inclui flyer, convite, site e publicidade interna e externa”.

Segundo o diretor-executivo da Cerv Brasil, Paulo Petroni, festas do tipo “open bar” acabam estimulando “o consumo abusivo, nocivo, que o setor não quer de seus consumidores”. A associação também promoverá ações em diversos municípios para conscientizar distribuidores sobre o combate ao consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes.

 

Fonte: Revista Veja