Álcool, a ‘porta de entrada’ das drogas

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Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos sugere que, ao contrário do que costuma ser divulgado, é o álcool e não a maconha a principal ‘porta de entrada’ para o consumo de outras drogas.

O estudo, que pode ser conferido clicando aqui, foi publicado no Journal of School Health. Os pesquisadores da Texas A&M University e da University of Florida avaliaram os padrões de uso de drogas nos País, baseados em entrevistas com 2.835 estudantes.

Eles levaram em conta na análise a idade com a qual os jovens começaram a consumir álcool, bem como a predisposição de cada um ao uso abusivo de outras substâncias posteriormente.

De acordo com a pesquisa, o uso de tabaco ou maconha entre jovens costuma ser precedido pelo consumo de álcool.

“Os entrevistados que iniciaram o uso de álcool na sexta série relataram tempo de vida significativamente maior no uso de substâncias ilícitas e também o uso de substâncias ilícitas mais frequentes do que aquelas que iniciam o uso de álcool na nona série ou mais tarde”, diz trecho da pesquisa.

Logo, é provável que, quanto mais cedo o sujeito tiver contato com o álcool, mais suscetível ele fica a fazer uso de substâncias ilícitas no futuro, conclui a pesquisa.

Em entrevista concedida ao jornal O Povo Online, a professora doutora e coordenadora do Projeto de Extensão Drogas de Abuso da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cléa Florenço, afirmou que, embora drogas mais “fortes”, como heroína e cocaína, sejam apontadas como as mais usadas pelos adolescentes, grande parte dos estudos mostram que, de fato, o álcool é a droga mais usada.

“Sabe-se que o álcool é a droga mais relacionada com mais da metade das mortes de jovens em acidentes automobilísticos”, complementa a professora.

Ela, no entanto, ressalta que não apenas o álcool, mas também o fumo, a maconha e demais drogas ilícitas devem ser incluídas na lista de risco e consideradas potencialmente “substâncias de abuso”.

A especialista reitera ainda que o uso da maconha, do álcool, e até mesmo do fumo precedem a experimentação com drogas, pois as motivações de consumo entre elas se assemelham.

“Os adolescentes referem que consomem álcool porque ‘todo mundo bebe’, ‘me deixa alegre’, ‘me deixa relaxado’, ‘me deixa mais desinibido’, ‘ameniza meu sofrimento quando estou na pior’. Os adolescentes que consomem drogas citam motivos semelhantes”.

Se apontar o álcool como o grande vilão é esclarecedor, entretanto não é algo totalmente novo.

A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) também realizou uma pesquisa que apontava que o consumo crônico de doses elevadas de álcool muda o funcionamento do cérebro, altera a estrutura e aumenta a atividade de uma área cerebral associada ao comportamento impulsivo e à formação de hábitos. Com o tempo, o funcionamento dessa região passa a prevalecer sobre a tomada de decisão consciente. Segundo a psicóloga Andrea Hamasaki, os alcoólicos relatam que, de fato, “bebem e perdem um pouco a questão do julgamento e vão no embalo, não pensam se é bom ou não, não estão preocupados com regras”. Ou seja, segundo ela, a maioria dos pacientes em tratamento de drogas ilícitas confirma que tudo começou com o álcool.

 

 Fontes: Lígia Costa, especial para O Povo Online & Abead