Smart Drugs: tão perigosas quanto tentadoras

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Usar drogas para melhorar a capacidade cognitiva não é, necessariamente, uma novidade. O ‘pai da psicologia’, Sigmund Freud, por exemplo, incentivava o uso de cocaína como estimulante há mais de um século. Na década de 1990 estudantes dos Estados Unidos retomaram tal cultura ingerindo metilfenidato e modafinila, princípios ativos de remédios como Ritalina e Modafinil, para estudar mais atentamente e obter notas melhores. Pouco depois, mais substâncias passaram a ser utilizadas por trabalhadores do Vale do Silício e do mercado financeiro americano.

Aqui no Brasil, desde a década de 1950, já se usava anfetaminas para trabalhar. Apesar de sermos o segundo do mundo no consumo da Ritalina, atrás apenas dos EUA, ainda não temos um estudo amplo sobre isto – pouco se sabe sobre o perfil de pessoas que tomam o medicamento, nem quantas usam a substância com o intuito de turbinar o cérebro.

De acordo com dados divulgados por uma das maiores bases de dados do mundo sobre saúde, a IMS Health, o mercado de psicoestimulantes (sendo a Ritalina o principal) cresceu 25% no país entre junho de 2011 e junho de 2015. Como porém, segundo a Organização Mundial da Saúde, 20% dos remédios vendidos no Brasil são falsificados ou contrabandeados, este impacto poderia ser ainda maior, uma vez que os dados da IMS só levam em conta o mercado legal.

O uso destas substâncias por pessoas saudáveis deram a elas o nome de nootrópicos ou smart drugs, conceito cuja origem se baseia no fato de serem drogas que não causam efeitos colaterais e tampouco viciam. Mas com o passar do tempo – e do uso – , a definição sofreu alterações e hoje os critérios estão longe de ser consensuais, já que alguns especialistas não consideram remédios psicoestimulantes como a Ritalina um nootrópico, por exemplo.

Também segundo a IMS Health, a prescrição de remédios para TDAH em pessoas com mais de 20 anos nos Estados Unidos está crescendo numa velocidade maior do que para crianças, o que levanta algumas dúvidas. A questão mais complexa são os efeitos do uso recreativo dessas substâncias em longo prazo, principalmente nesta faixa etária, a que mais as utiliza para esses fins.

Outro ponto polêmico no uso das smart drugs diz respeito a provas e circunstâncias nas quais o nível de desempenho é um diferencial. O questionamento que surge é similar ao que existe hoje no esporte profissional: tomar essas substâncias para passar em um concurso disputado ou se destacar no trabalho pode ser considerado doping? Para alguns especialistas, sim. Outros vão além e falam, inclusive, de um futuro em que, antes das avaliações, seja feito um exame antidoping intelectual.

Conheça, abaixo, as drogas da performance mental – os medicamentos mais usados por quem quer turbinar o cérebro –, para que foram criadas e seus efeitos colaterais:

Modafinila (princípio ativo do modafinil), é a droga sobre a qual mais se pesquisou os efeitos em pessoas saudáveis – é aprovada no Brasil para uso de alguns profissionais noturnos, como médicos. Indicada para  narcolepsia e sonolência diurna por apneia do sono, é usada por indivíduos saudáveis para aumentar a atenção e a concentração e facilitar a memória verbal e numérica. Entre seus efeitos colaterais estão o aumento de pressão, alteração na função cardíaca, perda de sono e perda de apetite. No Brasil, a venda é somente  sob prescrição médica (receita amarela).

Anfetamina-dextroanfetamina (princípio ativo do Adderall) tem ação similar à Ritalina, porém é mais forte. Por não ser muito usada para tratar doenças aqui no Brasil é, portanto, de difícil acesso. É usada por indivíduos saudáveis para aumentar a atenção e a concentração melhorando a vigília, facilitar a memória de trabalho e o aprendizado. Seus efeitos colaterais englobam ansiedade, impulsividade, arritmia, insônia, diminuição do nível de crescimento (em pessoas doentes) e tem potencial de abuso. A disponibilidade no Brasil é sob prescrição médica (receita amarela).

Metilfenidato (princípio ativo da Ritalina) é um dos nootrópicos mais consumidos e é análoga das anfetaminas. Utilizada para combater o déficit de atenção, hiperatividade e narcolepsia, é usada  por indivíduos saudáveis para melhorar a atenção e a concentração deixando a pessoa mais vigilante, facilitar a memória de trabalho e o aprendizado. Pressão alta, arritmia, perda de sono e apetite e diminuição do nível de crescimento (em doentes) fazem parte de seus efeitos colaterais. No Brasil está disponível somente sob prescrição médica (receita amarela).

Pirodina-acetanida (princípio ativo do Piracetam) foi um dos primeiros nootrópicos sintetizados nos anos 1960. Deu origem ao termo, mas hoje tem similares mais eficientes. Faz parte da família dos racetams (usados no tratamento de doenças neurológicas) e serve para combater a epilepsia e ajudar vítimas de AVC. Usada por indivíduos saudáveis para aumentar a atenção, a memória de longo prazo e facilitar o aprendizado, apresenta em seus efeitos colaterais sonolência e ganho de peso. No Brasil sua disponibilidade é sob prescrição médica (receita branca/comum).

 

Fonte: Revista VIP