Drogas ‘turbinadas’: piorando o que já estava ruim

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Já mostramos aqui que o lança-perfume está de volta. Agora, depois de dominar os bailes funk da periferia paulistana, o produto “turbinado”, feito com solventes e misturado com um produto altamente tóxico chamado antirrespingo de solda (tricloroetileno), chegou às baladas universitárias, em bares da Rua Augusta e nos clubes de música eletrônica.

Pequenos traficantes da região central disseminam a droga, vendida a R$ 7 em frascos de 5 milímetros. No Vale do Anhangabaú, por exemplo, é possível ver diferentes grupos usando a droga na calçada, com mais frequência à noite. Os usuários sentam em panos no chão, carregam as garrafas e inalam o conteúdo. A região fica a poucos metros do prédio da Prefeitura paulistana.

O que vem sendo usado na noite de São Paulo é bem diferente do que era conhecido desde os carnavais do século passado como “lança-perfume universitário”.

Contrabandeado do Paraguai, com borrifador de tampa verde, o “lança universitário” pode ser encontrado em baladas gay da Rua Frei Caneca, na região central, por cerca de R$ 150. Mas existem registros do uso da droga em outros pontos da capital paulista.

José Wellington, por exemplo, era do bairro Lajeado, na Zona Leste. Ele e começou a usar o novo lança perfume quando tinha 14 anos “para curtir com os amigos”. Aos 18, José morreu após 18 meses internado. A irmã dele, Grace, então, espalhou cartazes com fotos do garoto antes e depois de usar a droga e, assim, alertar os moradores sobre os efeitos do lança-perfume.

O lança vendido por pequenos traficantes é, na maioria das vezes, uma fabricação caseira que mistura clorofórmio, tíner, éter e balas (usadas para fazer o papel de essência). Alguns pontos de drogas ainda oferecem o produto “turbinado”, que leva também o antirrespingo de solda sem silicone – um solvente feito à base de hidrocarboneto que aumenta a aderência entre peças de metal recém-soldadas e é vendido em tubos de spray nas lojas de materiais para construção.

A diferença entre os dois tipos de lança-perfume já aparece no alerta do traficante. “Não coloque em garrafas pet. O fundo derrete e você vai perder tudo”, afirma o jovem que oferece pequenos frascos de vidro na Rua Muniz de Souza, no bairro da Aclimação, zona sul da capital.

Segundo especialistas, o fundo da garrafa derrete por causa do antirrespingo de solda. Eles apontam que o produto, de efeito anestésico, pode causar alucinações e morte por insuficiência respiratória em poucos minutos. De tão anestesiada, a pessoa perde a sensibilidade e corre o risco de parar de respirar, relatam especialistas.

Toxicologista do Hospital das Clínicas (HC) e chefe do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP), Anthony Wong afirma que o antirrespingo de solda destrói os tecidos respiratórios em pouco tempo. “É um produto que tenta imitar efeitos do LSD (ácido lisérgico). Ele é bem semelhante ao fluorcarbono usado em ar-condicionado e geladeira para congelar, e que foi proibido nos anos 1990 por causar efeitos contra a camada de ozônio”, afirma o especialista. “Dentro do organismo, o antirrespingo tem um efeito altamente corrosivo.”

Na capital paulista, o Instituto Médico-Legal (IML) registrou em 2014 uma morte causada diretamente pelo novo lança-perfume.

O Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) informou que foram apreendidos mais de 1.200 frascos de lança-perfume “genericamente catalogados” desde janeiro de 2014 – ou seja, não era o conhecido lança-perfume “universitário”, que vem do Paraguai.

Mas o órgão da Polícia Civil acrescenta não poder autuar jovens com o antirrespingo de solda porque o produto não está listado entre as drogas proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Acionados por organizadores de bailes funk, vereadores paulistanos querem aprovar uma lei que obrigue as casas de materiais de construção a fazer venda controlada do produto. Darlan Mendes, da associação que organiza os “rolezinhos” na capital paulista, diz que o uso é frequente entre os moradores da periferia.

Enquanto isso, em um distrito pobre da África do Sul, jovens estão usando um novo tipo de droga: o nyaope – que também é uma mistura explosiva: heroína, maconha, componentes de veneno de rato, remédios antirretrovirais, vinagre e cloro.

Ela custa só US$ 2 a dose e é altamente viciante. Seu uso está sendo ligado a uma elevação na criminalidade em algumas comunidades.

As consequências do uso prolongado são devastadoras e, por isso, a comunidade decidiu resolver o problema sem esperar ajuda do governo. Os centros privados de reabilitação são cada vez mais populares.

O dono de um deles é Oupa Segone, que perdeu um filho para as drogas e por isso decidiu abrir um centro de reabilitação particular.

Ele usa a terapia de grupo em uma fazenda para tentar dar uma vida normal a jovens viciados no nyaope.

Confira o vídeo da BBC sobre o nyaope clicando aqui.

 

Fontes: BBC, G1 & Rondoniadinamica