‘Jeitiiin’ mineiro pode desbancar Tio Sam

Tempo de leitura: 2 minutos

Conforme já mostramos neste artigo, dois pesquisadores dos EUA estão desenvolvendo uma vacina que eles esperavam ser o primeiro medicamento utilizado para tratar viciados em cocaína. A vacina criada por eles utiliza moléculas feitas de proteína e é eficaz em 40% dos pacientes, além de provocar efeitos colaterais.

Mas parece que os estadunidenses ficarão para trás, neste caso.

No Brasil, onde o consumo de cocaína é quatro vezes maior que a média mundial, de acordo com dados do escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), também está sendo desenvolvida uma vacina com proposta semelhante – eliminar a dependência de cocaína -, mas utilizando uma substância sem proteínas, promovendo maior resposta imunológica e sem  efeitos colaterais. Além disso, a aplicação em três doses protege o organismo por um longo período enquanto a variante americana oferece imunização por três meses.

O professor Angelo de Fátima, do departamento de Química Orgânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos responsáveis pela pesquisa, explica que a molécula desenvolvida no Brasil é distinta da americana porque “carece da parte proteica”, declarou, sem revelar o nome da substância utilizada, pois esta “ainda não foi patenteada”.

A vacina é baseada em uma nova molécula que estimula a produção de anticorpos contra a cocaína. Segundo o psiquiatra Frederico Garcia, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da vacina, “usada em conjunto com a psicoterapia e medicamentos, essa nova vacina seria uma estratégia importante. Acreditamos que, diminuindo a euforia da droga, os usuários não teriam motivos para o consumo”, explica.

Em 2003, Garcia e Angelo tentaram replicar nos laboratórios brasileiros o experimento da vacina estadunidense. Os pesquisadores mineiros, contudo, conseguiram sintetizar uma nova molécula, que foi caracterizada em 2014 e deve ser patenteada em breve. Atualmente, oito cientistas da UFMG estão envolvidos nos estudos, bancada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), agências de fomento à pesquisa.

Os resultados brasileiros, no entanto, precisam ser confirmados por testes clínicos, que devem ser feitos nos próximos meses. A princípio, a vacina só será usada por pacientes altamente motivados a parar de tomar drogas, para a prevenção do abuso de cocaína por crianças e adolescentes, ou na luta contra o crack, informa Angelo.

Se os resultados forem verificados, a eficácia do tratamento será testada em grupos maiores, fase que pode levar mais dois a três anos. Outra possibilidade para o uso da vacina que está em testes é a aplicação em grávidas que usam a droga, para a prevenção do vício nos bebês.

 

Fonte: Programa Bem Estar/Rede Globo