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Estética, do grego aisthetiké: percepção, sensação, sensibilidade. Diz respeito a impressão dos sentidos pela exposição as formas e a percepção do “belo”. Monteiro Lobato definia a beleza como; “harmonia das proporções”. Embora a estética e os conceitos do belo e do perfeito tenham em Platão um caráter mais subjetivo, somos em nosso tempo constantemente tomados pelas emoções e sensações que as formas e as imagens exercem sobre nossa mente, mas para que o indivíduo consiga classificar as formas dentro de um conceito estético mesmo que inconscientemente, o inconsciente se utiliza de estruturas de percepção construídas socialmente, ou seja, nossa cultura e nossa sociedade estão diretamente ligadas às interpretações que a forma exerce sobre nós e, portanto, as nossas reações a uma determinada configuração estética depende do nosso conceito do “belo”.
Existem manifestações sociais culturais e etc. que são naturalmente carregadas de elementos estéticos, vejamos como exemplo a corrente cultural brasileira trazida através do movimento do tropicalismo, além dos elementos sonoros e de expressão verbal, havia também um forte apelo estético que integrando aquela corrente cultural, alguns dos membros desta corrente, artistas como Caetano e Gilberto Gil incorporavam através de formas e imagens e gestos uma avalanche de expressões que iam além da sonoridade. Por outro lado, se analisarmos as correntes musicais de Minas Gerais neste mesmo período, encontraremos em artistas como Milton Nascimento, Flávio Venturini, Lô Borges e etc. Também uma fonte abundante de arte sem a construção estética do primeiro exemplo, mesmo assim, possuindo uma poderosa expressão cultural e poética esta corrente artística oriunda de Minas, contribuiu ricamente no desenvolvimento cultural do Brasil nas últimas décadas e em nossa sonoridade.
Desta forma podemos perceber como determinados contextos podem se apresentar aos nossos sentidos como possuindo forte apelo estético, e apresentam na estética grande parte de sua capacidade de nos influenciar e produzir emoções, assim como podemos ter contextos igualmente expressivos, porém desprovidos de apelo estético. Em psicoterapia estamos submetidos a estes mesmos fenômenos também construídos socialmente como nos exemplos citados, mas aqui eles podem constituir armadilhas para o terapeuta, que diferente do indivíduo alvo de uma manifestação com conotações estéticas e culturais, precisa manter sua neutralidade diante dos elementos que se manifestam no setting terapêutico. A maneira como nossa sociedade se relaciona com os fenômenos psicológicos, pode dar a cada fenômeno ou não, um forte senso estético, que influenciará a percepção do terapeuta, podendo induzi-lo ao erro.
Na formação pelo método Insight, temos chamado a atenção dos terapeutas para a necessidade de enxergar além da construção estética que foi feita ao longo dos últimos anos a respeito da problemática de drogas, na maioria das vezes em que recebemos o adicto no setting, não nos relacionamos com o indivíduo real, mas com as formas e imagens mentais que foram construídas socialmente em nossas mentes, pois a questão da drogadição possui indiscutivelmente um forte teor estético.
Imaginemos por exemplo um caso igualmente comum como um caso de Fobia, note que não há nenhuma construção estética preexistente nestes casos, por isso somos direcionados a entender a estrutura psicológica do problema, mas o problema em si não tem forma, nós o percebemos como um processo subjetivo e totalmente imaterial, nossas emoções não são afetadas por imagens associadas socialmente ao problema, esta característica trabalha em nosso favor, possibilitando uma tomada de decisões mais assertiva, focada na estrutura psicológica dos indivíduos em geral. Infelizmente quando o assunto é toxicodependência as reações não acontecem desta maneira, a estética da drogadição tem um aspecto assustador, sua verdadeira estrutura está encoberta por imagens, reportagens da TV e estereótipos de usuários com expressão de hostilidade. O medo desencadeado pela exposição à estética do problema, impede muitas vezes que enxerguemos estes casos como eles realmente são, um fenômeno complexo com ramificações históricas, sociais e etc. Mas ainda produto de estruturas psicológicas assim como todos os outros transtornos tratáveis.
Na maioria dos casos, se o terapeuta conseguir se livrar das impressões superficiais, perceberá não apenas que está apto a produzir resultados também nestes cenários, como que ocorre uma mudança continua suavizando a estética do problema assim que se inicia a abordagem. É preciso levar à sociedade e aos profissionais de saúde, a percepção de que é possível neutralizar a dependência e que estes casos são fenômenos dotados de estrutura, exatamente como todos os outros. Embora este apelo estético produza reações e emoções pré-construídas, trata-se de uma construção desenhada social e culturalmente por nós mesmos.
ISRAEL COSTA é hipnólogo, formado em gestão de processos, palestrante em diversos temas, sócio-fundador da Clínica Insight – Psicanálise e Hipnose, em Vitória, ES. Coordena todos os atendimentos em dependência química da clínica. Desenvolvedor do “Método Insight – Terapia em casos extremos de Drogas” e de modelos de abordagem em casos de AVC e epilepsia. Ministra o curso “Terapia em Casos Extremos de Drogas” em vários estados.