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Os cigarros eletrônicos são a moda da vez. Nos EUA, seu consumo já superou os cigarros tradicionais entre estudantes secundaristas, segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças. Entre adultos, ele é visto como um caminho para abandonar o fumo. Agora, uma equipe de pesquisadores mostra que a nicotina, em qualquer forma, danifica os pulmões. Mais: o estudo sugere que cigarros eletrônicos, mesmo sem nicotina, podem afetar a saúde pulmonar.
— O aumento do uso da nicotina inalada com cigarros eletrônicos, especialmente entre os jovens, exige mais pesquisas sobre o seu efeito sobre a saúde. Esse estudo mostra que componentes encontrados em soluções disponíveis no mercado e os vapores gerados pelo aquecimento podem causar inflamações pulmonares — disse Irina Petrache, líder do estudo publicado pela revista científica “American Journal of Physiology”.
Os pesquisadores expuseram ratos e células humanas ao cigarro e soluções de cigarros eletrônicos com e sem nicotina. Os resultados mostram como a fumaça do cigarro afeta os pulmões e aponta diretamente para a nicotina como a causa.
“A nicotina tem efeitos deletérios que resultam na perda da função da barreira endotelial do pulmão, inflamação pulmonar aguda e diminuição da proliferação de células endoteliais”, diz o estudo.
Esses efeitos foram notados tanto na fumaça do cigarro como nas soluções de cigarros eletrônicos que continham nicotina. Entretanto, soluções livres de nicotina também possuem substâncias danosas ao pulmão, como a acroleína. Essa substância, que está presente tanto na solução como no vapor, demonstrou danos ao pulmão ao atacar moléculas que mantém as células endoteliais unidas.
— Os efeitos descritos caracterizam os efeitos de curto prazo. Estudos de efeitos de longo prazo requerem mais investigações, mas esses resultados alertam que a inalação dos cigarros eletrônicos podem estar associados com efeitos diversos na saúde pulmonar — disse Irina Petrache.
Sobre a questão do cigarro eletrônico ser propagandeado como uma alternativa ao fumo tradicional, uma forma mais fácil para os fumantes largarem o cigarro, um outro estudo mostra que, entre os jovens, ele pode servir como porta de entrada para o vício do tabaco. Os pesquisadores acompanharam 2.530 estudantes de dez escolas públicas em Los Angeles e perguntaram aos adolescentes sobre seus hábitos de fumo e “vaping”. Os resultados apontam que os entrevistados que disseram fazer uso do cigarro eletrônico eram mais propensos a usar produtos de tabaco no ano seguinte.
— Os adolescentes podem estar especialmente suscetíveis a desenvolver o vício em nicotina após a exposição ao cigarro eletrônico porque seus cérebros ainda estão se desenvolvendo e são parcialmente sensíveis à substância — escreveu disse Nancy Rigotti, da Escola Médica Harvard, à revista “Time”.
Os pesquisadores não puderam concluir que o uso de cigarro eletrônico leva ao uso de outros produtos de tabaco, outros estudos são necessários para determinar essa ligação causal. Entretanto, eles afirmam ser pouco provável que o número de adolescentes que use tanto os cigarros eletrônicos e outros produtos de tabaco possam ser atribuído inteiramente aos que já fumavam e testaram os cigarros eletrônicos depois.
“Esses resultados levantam a possibilidade que a iniciação ao uso do cigarro eletrônico e do tabaco seja bidirecional na adolescência”, escrevem os autores do estudo.
Alguns apontam os cigarros eletrônicos como uma alternativa mais saudável em relação ao tabaco, porém, os dois produtos possuem nicotina, que causa o vício. Além disso, algumas pesquisas apontam para o perigo dos sabores do cigarro eletrônico e que esses dispositivos podem, também, produzir substâncias derivadas com o aquecimento.
E essa imagem de que o cigarro eletrônico é menos danoso à saúde pode acabar atraindo a atenção dos adolescentes, assim como os diferentes sabores e o fácil acesso, já que ele ainda não é regulado.
Fonte: O Globo