Tempo de leitura: 7 minutos
Você já sabe que comer açúcar demais pode estragar os dentes e causar diabetes e obesidade. Mas será que o açúcar pode também provocar colesterol alto, pressão alta, doenças cardíacas e possivelmente até o câncer? Essa é a teoria de um grupo de pesquisadores médicos progressistas, que defendem que o açúcar atua como uma toxina no corpo e é responsável não só pelas nossas taxas crescentes de diabetes e obesidade, mas também pela incidência cada vez maior de doenças cardíacas, câncer e outras doenças crônicas. Como o açúcar é tão presente nas comidas – em itens óbvios como sorvetes, biscoitos e refrigerantes, assim como em alimentos “saudáveis”, como biscoitos, barras de cereal e molhos para salada — especialistas afirmam que a maioria das pessoas vive numa sobrecarga tóxica.
“O açúcar é a maior crise de saúde pública da história”, diz Robert Lustig, endocrinologista da Universidade da Califórnia em San Francisco, cuja palestra Sugar: The Bitter Truth (Açúcar: a verdade amarga) teve mais de 5 milhões de acessos no YouTube. Em um artigo publicado na revista Nature, Lustig e seus colegas causaram polêmica por afirmar que o açúcar é tão prejudicial que deveria ser sujeito à regulamentação como o álcool e o cigarro. “Toda substância que pode ser abusada — como cocaína, heroína etc – exige algum tipo de intervenção, seja pessoa ou social”, diz Lustig. “Não temos nada disso com o açúcar, e prevejo que vamos precisar de ambos.”
À primeira vista, essa posição anti-açúcar pode parecer alarmista. Mas Lustig e seus colegas da Universidade da Califórnia afirmam que o açúcar é prejudicial se for ingerido em quantidades significativas — não necessariamente por ser rico em calorias, mas por provocar uma cadeia de reações tóxicas no corpo que produzem gorduras nocivas, hormônios e outros subprodutos metabólicos.
O açúcar é encontrado em quase todo tipo de alimentos, exceto carnes, óleos e manteiga. Mas existe uma grande diferença entre o açúcar que ocorre naturalmente em alimentos não-processados, como frutas, legumes, leite e cereais integrais, e aquele que é adicionado a alimentos preparados ou industrializados. Açúcares adicionados incluem cada adoçante que se possa imaginar: açúcar refinado, açúcar mascavo, xarope de milho de alta frutose, xarope de milho, dextrose, mel, néctar de agave. São esses açúcares que os especialistas apontam como a raiz do nosso problema com o açúcar, pois eles estão presentes em grandes quantidades em quase tudo o que comemos. E esse tipo de comida também contém muitas calorias e poucos nutrientes. “Na natureza, é difícil chegar ao açúcar”, Lustig e seus colegas escreveram na revista Nature. “O homem tornou isso mais fácil.”
Dos diferentes tipos de açúcar, a frutose pode ser a mais prejudicial, afirmam muitos especialistas. A frutose é encontrada naturalmente em pequenas quantidades nas frutas, mas também é combinada com glicose (a outra molécula-base do açúcar) para fazer quase todos os tipos de adoçante comercial, incluindo o açúcar de mesa e o xarope de milho. Por que a frutose é tão prejudicial? “Ela é única”, diz Miriam Vos, gastroenterologista da Universidade de Emory. “É metabolizada principalmente pelo fígado”, então, quando você a ingere, ela é processada e fica no fígado, produzindo gorduras sanguíneas nocivas chamadas triglicérides.
Os açúcares que não contêm frutose, por outro lado, como a glicose pura e o xarope de milho, são processados pelo fígado e, na sequência, enviados para a corrente sanguínea, caso você precise do combustível ou não. Se você comer muita frutose e produzir muitas triglicérides, pode ter como resultado fígado gordo e resistência à insulina – quando o corpo não consegue produzir insulina suficiente para processar todo o açúcar que você ingere.
Há anos os pesquisadores sabem que a resistência à insulina pode levar ao ganho de peso e à diabetes. Mais recentemente, no entanto, eles também descobriram que essa resistência à insulina também pode provocar doenças cardíacas, em parte porque comer muito açúcar suprime o “bom” colesterol HDL. Comer muito açúcar de qualquer tipo também parece aumentar a pressão sanguínea, mas o efeito é pior quando se consomem glucose e frutose juntas, o que é o caso com o xarope de milho rico em frutose e o açúcar refinado. Alguns pesquisadores suspeitam que os efeitos do açúcar no metabolismo da insulina podem até causar câncer ou acelerar seu crescimento. “Ainda é cedo para falar de câncer”, disse Lustig. “Mas sabemos que o açúcar é um motor da resistência à insulina, e a resistência à insulina é um motor do câncer.” Uma teoria é que altos níveis de insulina acelerem o crescimento de células cancerosas, pois o hormônio já estimula o crescimento dessas células em laboratório.
Infelizmente, o exercício não é suficiente para evitar completamente os efeitos negativos do açúcar no corpo. A atividade física pode melhorar seus números de colesterol em alguns pontos, mas em geral isso não é suficiente para trazer os índices para níveis mais saudáveis. “O açúcar pode ser prejudicial mesmo que você seja uma pessoa magra e ativa”, diz Vos. Se você é um atleta, você provavelmente não vai querer cortar o açúcar completamente, especialmente antes e durante os treinos mais duros. “Há evidências de que pequenas quantidades de frutose são boas para os superatletas”, diz Richard Johnson, um nefrologista da Universidade do Colorado, observando que o efeito é benéfico apenas quando o açúcar é consumido em quantidades moderadas, antes ou depois de intensas atividades.
Outros especialistas insistem que o açúcar não é uma ameaça tão perigosa para todo mundo – incluindo aqueles de nós que não se exercitam intensamente –, como afirmam Lustig e outros.
David Katz, diretor do Centro de Pesquisa e Prevenção de Yale, diz que, embora açúcar demais não seja bom, chamá-lo de “veneno”, como defende Lustig, é um exagero. Katz aponta que os nossos corpos produzem açúcar naturalmente, como fonte de energia. “A ideia de que o açúcar é tóxico é bobagem”, diz Katz. “Você pode demonstrar os efeitos terríveis das altas doses, mas e daí?” Ele também é cético em relação a especialistas que defendem a eliminação do açúcar. “Esse é exatamente o tipo de bobagem nutricional em que estamos presos há décadas. Nos apaixonamos por comidas com baixo teor de gordura; nos apaixonamos com poucos carboidratos. Se nos apaixonarmos por pouco açúcar, não vamos melhorar nossa nutrição em geral. É um caso clássico de olhar para a árvore e perder de vista a floresta.”
Apesar de Katz concordar que a maioria dos americanos provavelmente come açúcar demais, ele não recomenda desistir completamente dos doces, porque isso pode levar a compulsões alimentares. Em vez disso, ele e a maioria dos nutricionistas aconselham o controle de porções. Para os homens, isso significa limitar-se a nove colheres de chá de açúcar adicionado por dia e seis para mulheres (uma lata de refrigerante tem oito), para seguir a recomendação da American Heart Association.
Para entender melhor esse limite, comece analisando os rótulos dos produtos industrializados que você come todos os dias por pelo menos uma semana. Faça a soma da sua ingestão diária, tendo em mente que quatro gramas de açúcar em um rótulo dos alimentos equivalem a uma colher de chá de açúcar. Se você exceder regularmente o limite recomendado – e a maioria de nós o faz -, comece usando opções como pouco açúcar para alimentos que não deveriam ser doces, como biscoitos e molhos para salada. Evite todas as bebidas açucaradas, como refrigerantes e até mesmo suco de frutas, que têm grande quantidade de frutose, mas não as fibras e outros nutrientes saudáveis da fruta de verdade. Finalmente, priorize comer comida de verdade, em vez de comida industrializada, pois elas não têm adição de açúcares.
Fonte: Elizabeth Svoboda, via Men’s Journal