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Grande parte das drogas alucinógenas são provenientes de plantas que foram descobertas, em sua maioria, por culturas primitivas, no passado, que ao sentirem os efeitos mentais das mesmas, passaram a considerá-las como “plantas divinas”, isto é, plantas que faziam com que, quem as ingerisse, recebesse mensagens dos deuses, pois elevavam o homem a uma dimensão não material, provocando alucinações. Dessa maneira, esses povos e culturas, em seus rituais, acreditavam estar em contato com forças da natureza e suas divindades.
Assim, até hoje, em culturas indígenas de vários países, o uso de plantas alucinógenas tem este significado religioso. Seu uso é basicamente ritual ou de cura e seu uso deve propiciar harmonia ao invés de desavença, paz ao invés de contestação.
Mas, infelizmente, não é isto que está acontecendo.
Os tikunas formam a mais numerosa nação indígena do Brasil. A proximidade com os brancos tem feito os índios adotarem práticas perigosas, como o alcoolismo. O índios alegam que a bebida vêm das cidades e são vendidas nas tribos. Antropólogos como Luis Ventura concordam com este ponto de vista e alertam que a disseminação no uso das substâncias desestrutura as comunidades – e também pode ter relação com descaso do governo pois, pela lei, é proibido vender qualquer tipo de bebida alcoólica em região indígena.
Por isso, desde 2010 os índios da região formaram sua própria polícia, uma espécie de milícia paramilitar. A fronteira entre Tabatinga, no Brasil, e Letícia, na Colômbia, é rota do tráfico de drogas e de armas. O Rio Solimões é a principal estrada da região. As aldeias Tikuna ficam justamente neste entorno e são mais de 20 vilas.
Muitos jovens e até crianças com idades entre 10, 11 e 12 anos de idade já estão envolvidos com álcool. É possível ver jovens bebendo na porta de casa, sem o menor controle dos pais. Embriagados, muitos perdem o equilíbrio e chegam a cair no igarapé.
“O consumo de álcool e drogas está crescendo entre índios das comunidades do estado”, afirma o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Ivaldo André. Segundo ele, o problema atinge diversas etnias, tem incidência entre jovens e resulta em violência. Para André, o alto índice de consumo de maconha e de álcool é um dos motivos que levaram ao aumento no número de mortes indígenas. Ele afirma que a violência em geral, inclusive os homicídios, são consequências do alcoolismo.
De acordo com a Agência Brasil, dados sobre os indígenas brasileiros indicam que 38,4% consomem álcool e desse total, 49,7% gostariam de parar de beber, mas não conseguem – 46% chegaram a pedir ajuda, sem sucesso. O consumo de álcool é considerado “um grande problema” nas tribos indígenas, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad).
Mas este tipo de problema não acontece só aqui, no Brasil.
“Antigamente, expulsávamos pessoas que lesavam a tribo”, conta Rick Tailfeathers, diretor de comunicação da tribo indígena canadense Blood Tribe (Tribo de Sangue, em tradução livre).
A expulsão é a medida extrema que tem sido tomada por um número cada vez maior de tribos no Canadá e nos EUA para proteger as comunidades e seus futuros, uma resposta ao crescimento do abuso de drogas e álcool e da violência. Ser expulso pode significar a perda de benefícios em saúde, habitação e educação; a perda dos direitos indígenas a pesca, caça e sepultamento. Também pode significar ficar sem teto.
Ano passado, a polícia da nação Kainai entrou numa casa do vilarejo Standoff e encontrou seus moradores, um casal, mortos por overdose do narcótico conhecido como Oxi, uma pílula falsa de oxicodona.
Naquele mesmo dia, num outro caso, duas pessoas foram encontradas inconscientes e levadas às pressas para o hospital, onde receberam tratamento para overdose. Três membros da comunidade foram presos e acusados de tráfico de drogas e negligência resultando em morte em conexão com esses casos.
Reservas que possuem seus próprios tribunais tribais têm incorporado a justiça tradicional no processo. Assim, quando um jovem se envolve com drogas, o tribunal tribal pode enviá-lo para um programa de reabilitação e ajudar na garantia de oportunidades de emprego quando o programa terminar. Se, no entanto, a pessoa não quiser ajuda, será expulsa.
Fonte: Opera Mundi