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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o álcool e o tabaco são as drogas mais consumidas no mundo e seu uso indevido é um dos principais fatores que contribui para a diminuição da saúde mundial. Só no Brasil, estima-se que 22,8% da população já fez uso, pelo menos uma vez na vida, de drogas ilícitas, como maconha e cocaína. Portanto, faz-se necessário o questionamento: “Por que as pessoas usam drogas?”.
Uma resposta, simples e imediata, é porque ela causa prazer imediato muito intenso. Quando essa sensação ganha representação psicológica, comumente gera pensamentos de liberdade, amizade, identidade grupal e comunhão, com Deus ou uma ideologia. Entretanto, quando se estuda mais a fundo o problema, encontramos pessoas que – conforme o tempo de uso, da substância, do seu organismo e do meio em que vivem –, aos poucos, entram num processo de profunda compulsão, que causa isolamento, inadaptabilidade social e enormes prejuízos à sua vida e a das pessoas ao seu redor.
Geralmente, param de estudar, perdem empregos, começam a mentir, roubar, se prostituir e, até, matar. Perdem os amigos não usuários, os companheiros e, por fim, sua própria família. O quadro é infeliz: terminam presos, inválidos, vagando por clínicas de recuperação, ou mortos. Assim, é impossível não se perguntar do por que ele ‘insiste’ em chegar ao fundo do poço? Por que ele não para de uma vez ou se controla como uma pessoa normal?
A dependência não é uma realidade que atinge todos os usuários de drogas, mas a uma considerável parcela. E as respostas àquelas perguntas ainda continuam sem uma explicação completa. Sabe-se, sim, que esses comportamentos possuem causa multifatorial, conhecida como bio-psico-social.
Isso significa que o problema é muito complexo e envolve diversos aspectos, de predisposições genéticas à incapacidade da pessoa lidar com frustrações, limites, e, até, os valores de nossa cultura, como religião, política, o ambiente familiar, a pressão de um grupo e o acesso a essas substâncias.
Outra causa, muito pouco comentada pela ciência mais antiga, é o problema existencial ou espiritual, como denominam algumas vertentes. É muito claro que as drogas vêm preencher um vazio existencial e uma falta imensa de sentido da vida humana, deixado pela descrença religiosa.
Estudos têm apontado para evidência de que pessoas sem religiosidade apresentam maiores índices de consumo de drogas lícitas e ilícitas.
Em contrapartida, os dependentes químicos apresentam melhores índices de recuperação quando seu tratamento é permeado por uma abordagem espiritual, como o programa do A.A. (Alcoólicos Anônimos), quando comparados aos dependentes que são tratados exclusivamente por meio médico.
O programa do A.A., nascido em 1935, sugere que somente um verdadeiro despertar espiritual pode devolver a sanidade de um dependente químico e conduzi-lo a uma recuperação. Essa afirmação foi feita pelo psiquiatra e psicólogo suíço Carl G. Jung (1875-1961), mas este assunto fica para outro artigo. Até lá.
FREDERICO ECKSCHMIDT é psicólogo, especialista em dependência química e mestrando pela Faculdade de Medicina da USP. Possui pós-graduação em Social Health, pela Harvard University e é também é sócio-diretor do Núcleo Synthesis. Email: frederico@nucleosim.com.br