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No dia 20 de julho tradicionalmente comemora-se o ”Dia do amigo” no Brasil, e no dia 30 do mesmo mês o “Dia Internacional da Amizade”, conforme estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Considerando que muitas pessoas que consomem álcool o fazem entre amigos – hábito cultural no Brasil –, é importante observarmos como as amizades podem influenciar o consumo de álcool, e vice-versa. Apesar de ser mais reconhecido que um ou alguns amigos podem levar a pessoa a beber mais ou menos, a literatura mais recente tem demonstrado que o consumo de álcool e, principalmente, a capacidade que cada um tem de beber e metabolizar o álcool tende a direcionar em quais grupos um indivíduo será inserido.
Existe uma característica individual, hereditária, que determina a sensibilidade de cada um aos efeitos do álcool, chamada de “nível de resposta ao álcool”. Algumas pessoas, desde o primeiro contato com álcool, são menos sensíveis aos efeitos dessa substância e precisam de mais doses que outras para alcançar a mesma sensação de embriaguez. Dessa forma, ao longo da vida, esses indivíduos menos sensíveis ao álcool têm risco elevado de ingerir maiores quantidades e gastar mais tempo consumindo bebidas alcoólicas, e frequentemente se agrupam com outros que também apresentam esta característica. A literatura aponta que pares dos indivíduos com baixa resposta ao álcool (menor sensibilidade e consequente maior uso) também são bebedores pesados, fator que reforça o hábito de beber e aumenta o risco de consequências negativas à saúde.
Ainda existem regras presentes em grupos e sociedades que modulam o comportamento e motivam as pessoas a agir, denominadas “normas sociais”. Em determinados grupos, em especial jovens, há uma ideia equivocada de que é normal e aceitável beber com frequência e intensidade elevadas; apesar de isso não ser comprovado por meio de dados, é a percepção errônea do grupo que acaba por direcionar o comportamento de seus membros. Inclusive, muitos jovens bebem de forma abusiva porque acreditam que este é o comportamento esperado para ele, seguindo uma norma social equivocada e obtendo a sensação de pertencimento ao grupo.
O comportamento individual de consumo de álcool também sofre influência do fenômeno conhecido como pressão de pares. Além da noção mais antiga que “uma pessoa pode levar outra para o mau caminho”, a ciência já demonstrou que os efeitos dos comportamentos dos pares em uma pessoa ocorrem de forma complexa, e não somente da forma mais direta. Quando um grupo está habituado a ter certo comportamento, tenderá a perpetuar este hábito, e será mais difícil resistir quando um indivíduo tentar modificar seu consumo.
Considerando estes conhecimentos de como as amizades podem interferir no consumo de álcool e vice-versa, estratégias de prevenção devem atuar sobre a influência dos pares, por meio da inclusão de treinamento de habilidades para resistir à pressão social, informações corretas sobre o próprio beber em relação aos pares e estratégias específicas para situações festivas. Além disso, é importante corrigir percepções equivocadas de normas sociais, ou seja, confrontar com dados reais a quantidade e frequência de álcool que o indivíduo presume que seus pares consomem e a quantidade de álcool que os indivíduos presumem ser necessário beber para serem aceitos no grupo.
Ao refletir sobre algumas frases populares sobre amizades, como a que diz que amigos são a família que escolhemos, ou que amigos não são feitos, mas sim reconhecidos, é curioso perceber como o consumo de álcool pode estar atrelado também a estas escolhas e a estes reconhecimentos. Sabendo que o álcool é uma substância legalizada, acessível, e que pode acompanhar a vida de uma pessoa por muitos anos, é preciso desenvolver um senso crítico sobre estas questões a fim de prevenir o uso nocivo, e fazer com que as amizades não influenciem negativamente a saúde, mas ao contrário, que sejam uma forma de obter cuidado, companheirismo, e por fim, mais saúde.
Fonte: CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool