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Sabe aquele gelo que você me deu?
Eu tô tomando ele na balada com Whisky e Redbull…
O refrão desta música, Gelo na balada, ficou conhecido nas vozes de artistas como Wesley Safadão e Cavaleiros do Forró. É mais uma das muitas ligações da música com o álcool – como já mostramos aqui –, desta vez tratando de um clássico nas baladas: o consumo de bebidas alcoólicas misturadas com energéticos (e não apenas o citado na canção, conhecido por ‘te dar asas’ – como as Ícaro).
Bebidas energéticas costumam contar com uma dose de cafeína dez vezes maior que a de refrigerantes. Como são doces, são muito usadas por jovens que querem deixar a bebida com sabor mais agradável e também para ter mais pique durante a balada.
Não é novidade que tal mistura oferece mais chance ao jovem de virar consumidor de álcool quando adulto. Entretanto, quando o energético é tomado com álcool ainda durante a adolescência, o centro de recompensas do cérebro é alterado em nível comparado ao uso de cocaína. Segundo pesquisadores da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, essas alterações podem se estender até a idade adulta.
Na pesquisa, ratos foram testados com a mistura em comparação com os efeitos em animais que receberam placebo, ou seja, uma substância inerte. Os que receberam álcool com energéticos tiveram seus cérebros foram inundados pela proteína ΔFosB, típica de quem abusa da cocaína ou da morfina.
Estes ratos tornaram-se menos sensíveis aos efeitos prazerosos da cocaína ao chegar na idade adulta, um indício claro de que eles procurariam doses maiores da droga para obter os mesmos efeitos.
E mais: os mesmo ratos apresentaram uma tendência maior a consumir açúcar, pois esta substância também ativa o sistema de recompensa do cérebro.
De acordo com Richard van Rijn, um dos autores da pesquisa, tudo indica que “as duas substâncias misturadas causam mudanças de comportamento e na neuroquímica do cérebro”. “Há claramente efeitos em tomar essa mistura que não existiriam quando se toma o álcool ou o energético separadamente”, afirmou.
Ícaro, segundo a mitologia grega, construiu asas artificiais a partir da cera do mel de abelhas e penas de gaivota para fugir do labirinto do Minotauro e, tomado pelo desejo de voar próximo ao Sol, viu suas asas derreterem, caindo para morte.
É o que acontece com quem insiste em voar com asas falsas.
Fonte: Revista Exame