Tempo de leitura: 2 minutos
Segundo dados da metodologia de cálculo da inflação oficial no País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as campanhas de conscientização sobre os males causados pelo cigarro diminuíram o consumo, mas o peso dos gastos com o produto ainda é alto no bolso das famílias brasileiras.
Só em 2016, os cigarros já estão 12,62% mais caros, segundo o IPCA, o que representa uma fatia de 1,08% do orçamento mensal das famílias – o equivalente à da despendida com o tradicional arroz com feijão (1,12% do IPCA). O gasto dos consumidores com cigarro é ainda 13,5 vezes superior ao do cafezinho ou a tudo o que se gasta no mês com manicure, cinema e médico juntos (1,1% do IPCA).
Há vinte anos, o peso do cigarro na cesta de produtos consumidos pelos brasileiros chegava a 1,4%. Como o item ficou 448,17% mais caro desde então (os impostos variam entre 75% a 88% do preço do produto, dependendo do Estado e das alíquotas locais de tributação), contra uma alta de 252,08% da inflação oficial, o movimento mostra que as famílias cortaram despesas com o item.
Ou seja, conforme defende a epidemiologista Liz Almeida, gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca, “o aumento dos impostos é o maior determinante para a redução do tabagismo. E no Brasil o preço do cigarro é ‘zilhões’ de vezes mais barato do que em outros lugares do mundo”. Apesar dos lucros da indústria tabagista estar caindo, Liz lamenta não “convencer o mundo de que essa é uma indústria que deveria fechar”.
Infelizmente, porém, a elevação da tributação não apenas fez cair o lucro da indústria, como acabou também por reduzir a competitividade do produto brasileiro ante os cigarros que entram no País por meio do contrabando. Até agosto de 2016, último dado disponível da Pesquisa Industrial Mensal/Produção Física, a indústria nacional de fumo acumula uma queda de 48,3% nos últimos 10 anos. Em cinco anos, a alta do imposto que incide sobre o cigarro foi de 140%, uma das principais razões para que a fatia do produto ilegal no mercado brasileiro avançasse de 21% em 2011 para 35% em 2016.
Este susto com a elevação de preços e a perspectiva de economizar um bom dinheiro acabou por incentivar muitos fumantes a abandonar o vício. “No curto prazo não faz muita diferença”, afirma a fundadora do site Finanças Femininas, Carolina Ruhman, especialista em finanças pessoais. Para ela, gastar entre R$ 5 e R$ 10 por dia não pesa no bolso e, para um fumante, isso parece um dinheiro bem gasto. “Mas, quando você coloca esse custo no longo prazo, você consegue ver o tamanho do rombo”, explica Carolina, uma ex-fumante que economizou R$ 40 mil após decidir deixar o vício.
Fonte: Estadão