Os obstáculos da ‘maconha legal’

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Um dos ícones pelo qual o Uruguai se tornou conhecido em todo o mundo durante o governo de José Mujica a maconha legal ainda não está à venda em farmácias. Além de ter sido duramente criticada pelo Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Delito (UNODC, na sigla em inglês) à época de sua aprovação, quatro anos e meio depois que a ideia foi lançada, ela encontra obstáculos de outra natureza.

O atual presidente uruguaio, Tabaré Vazquez, já afirmou que a venda de maconha vai não começar este ano. Ele admite que foi novamente advertido sobre os danos que a droga causa, mas reconhece que “temos de aplicar a lei, e vamos estar aplicando muita responsabilidade, vendo e avaliando os resultados que obtivermos “, disse Vazquez em uma entrevista publicada no jornal El Pais.

O presidente disse também ter noção de que haverá no Uruguai “turismo de cannabis”. “Existem muitos procedimentos, não é fácil fazer o registro seguro dos usuários, dos que vão produzir e daqueles que vão vender a maconha”, explicou o presidente.

As medidas de segurança que o governo julga necessárias para distribuir maconha têm gerado desentendimentos com as empresas vencedoras da licitação para produzir a droga, já que os investidores não estão dispostos a pagar pelo transporte (que, inclusive, deveria ser feito com escolta armada, mas em recente reunião esta exigência foi removida).

Outro problema é que a maconha a ser produzida será insuficiente para atender a demanda. Estima-se que apenas um quarto das pessoas que consomem regularmente cannabis poderá adquiri-la através dos três mecanismos legais: venda em clubes de cultivo da droga e farmácias. Entretanto, numa primeira pesquisa realizada pelo Centro de Farmácia do Uruguai, das 300 lojas cadastradas apenas 26 mostraram real interesse ​​em vender cannabis. Na última atualização, piorou: somente seis aparecem na lista. O motivo, de acordo com o Centro de Farmácia, diz respeito, justamente, à segurança.

E tem mais: como na maioria dos países do mundo os bancos são proibidos de negociar com empresas que vendem maconha por ser uma atividade ilegal (afinal, maconha é droga), isso pode comprometer as relações dos bancos estabelecidos no Uruguai com o exterior.

Tem também a questão do tipo de pacote mais adequado para conservar o produto. Um dos grupos empresariais envolvidos na produção de maconha e estaduais, o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), não está disposto a assumir os custos de produção de um pacote com as características impostas pelo governo (um saco de plástico de três camadas com fecho de zíper contendo 5 gramas de cannabis. Além de manter o produto em boas condições, impede também o intercâmbio de umidade, luz e odores). Segundo o IRCCA, é possível encontrar recipientes mais baratos.

Porém, mesmo resolvendo a questão do recipiente, ainda vai demorar mais tempo para os uruguaios poderem comprar seus 40 gramas mensais de maconha em farmácias. Isso porque ainda não uma data definida para a realização do registro dos usuários. Ao mesmo tempo em que o governo anuncia uma possível data, lança, também, uma campanha publicitária para informar sobre os riscos do consumo da droga.

O último obstáculo, porém não menos importante, é que o preço final da maconha será maior do que o inicialmente acordado – o governo havia anunciado que iria custar 1,17 de dólar por grama, o IRCCA confirmou que o preço a ser pago pelos usuários de cannabis vai chegar a 1,30 de dólar por grama. Neste valor está o pagamento das empresas que produzirão a droga (na casa dos 0,90 centavos de dólar), ao qual deve ser adicionado a margem de 30% para as farmácias e 10% para IRCCA.

“Em suma, é uma decisão complexa e deve ser tomada com muito cuidado”, concluiu o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.

 

Fonte: El Observador