Em nome da ciência (?)

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Drugslab é um canal do YouTube criado pela emissora pública holandesa BNN. Há apenas cinco meses no ar, ele já conta com mais de 298 mil assinantes.  Os 18 episódios exibidos até agora somam 8,6 milhões de visualizações. E o que ele tem demais? É que cada episódio é dedicado a uma droga.

Jelle Klumpenaar, criador e produtor do Drugslab, disse à BBC Brasil que o programa, especial para a internet, busca prestar um serviço e reduzir os danos gerados pelo uso de substâncias, em sintonia com uma mudança na forma como jovens consomem informação.

Assim, a cada episódio, os apresentadores apresentam uma droga, falam sobre a história dela, como é feita, se tem aplicações medicinais, os efeitos e os prejuízos causados por ela. E, para Klumpenaar, “não há um jeito melhor de fazer isso do que usá-las em frente à câmera”.

Exatamente isso que você leu: os apresentadores não se limitam apenas a falar sobre a droga, eles também a experimentam “em nome da ciência”.

“Educar jovens sobre drogas é uma boa forma de evitar acidentes. E eles preferem pessoas reais contando histórias reais em vez de apresentadores lendo roteiros”, diz Klumpenaar. “Há quem ache nosso conteúdo controverso, e respeitamos isso. Falar sobre o tema ainda é um grande tabu em muitos países. Queremos quebrar esse tabu.”

Os apresentadores do Drugslab são o cantor Rens Polman, de 25 anos, o estudante universitário Bastiaan Rosman, de 23, e a atriz Nellie Benner, de 30. Coube A Rens testar uma pílula de ecstasy no episódio de estreia. Antes de engolir um comprimido rosa, ele destaca a importância de testar o comprimido para saber sua composição – um serviço oferecido desde 1992 por laboratórios autorizados pelo Ministério da Saúde holandês. Depois de algum tempo após consumir a droga, ele começa a relatar as sensações geradas pela droga: calor, boca ressecada, mãos frias e suadas.

Então, a atriz Nellie questiona Rens sobre o que ele sente enquanto monitora seus batimentos cardíacos e temperatura. Uma série de testes é realizada para avaliar como as habilidades cognitivas, motoras e o comportamento do colega são afetados. Enquanto isso, na telinha surgem alertas como: “Os acidentes mais comuns envolvendo o uso de ecstasy são superaquecimento (do corpo) e intoxicação por água”.

Cada programa dura dez minutos e é acompanhado por um clipe curto que resume o que é a droga testada e traz recomendações e conselhos aos espectadores, como: avisar amigos da dose usada; evitar beber álcool com drogas que afetam o sistema nervoso e ter em mente que drogas feitas a partir de ingredientes naturais não são uma opção mais saudável do que as sintéticas.

A principal crítica ao programa canal é a de que, ao mostrar jovens experimentando drogas, ele esteja de alguma forma incentivando outros jovens a fazer o mesmo ou glorificando seu uso. O produtor Klupenaar discorda: “Adolescentes e jovens experimentam drogas, é normal. Se eles não obtêm essas informações com nosso programa, vão buscar por isso na internet”. E afirma que “não é nosso papel dizer que isso é errado. Mostramos os efeitos e oferecemos as informações para minimizar os possíveis perigos.”

Mas Ferry Goossens, líder do programa para álcool e drogas do Trimbos Instituut, referência na Holanda para tratamento e prevenção de doenças mentais e vícios, avalia que o canal “não é uma boa ideia” porque, ao usar uma abordagem como a redução de danos, a mensagem deve ser dirigida a quem já usa drogas. Segundo ele, “quem não consome pode ficar interessado em testar ou quem usa um tipo pode querer experimentar outros”.

Os apresentadores do Drugslab já experimentaram algumas das drogas mais comuns, como cocaína, LSD, cogumelos e bolo com maconha. E também outras menos conhecidas, como o composto sintético 2C-B e ecstasy feito com ervas, por exemplo. E até mesmo algumas que muitos não considerariam uma droga, como cafeína concentrada, álcool e óxido nítrico – mais conhecido como “gás hilariante”.

Ano passado, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um relatório sobre consumo de drogas apontando que 250 milhões de pessoas (cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos) usou drogas ao menos uma vez. Ao mesmo tempo, 29 milhões de pessoas sofriam com problemas relacionados a drogas, o primeiro aumento registrado nos últimos seis anos – e que levou 207 mil pessoas à morte no mundo.

Em resumo, a ONU diz que, “de forma geral, o impacto do uso de drogas para a saúde continua a ser devastador”.

E você? Acha que um programa assim pode ser considerado de utilidade pública? Deixe seu comentário em nossa página do Facebook.

 

Fonte: G1