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Além da dependência química, as pessoas estão sujeitas às chamadas dependências comportamentais: alimentar, exercícios, compras, trabalho (workaholics), jogo, internet e sexo.
Com a popularização dos smartphones, surgiu a nomofobia – o pavor de estar sem o telefone celular disponível.
O termo foi criado no Reino Unido para descrever a dependência (também conhecida como uso problemático ou compulsão) do telefone móvel.
Já são mais de 7 bilhões de aparelhos celulares em uso no mundo, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT) – e a maneira mais usada para acessar a internet. O número grandioso também se aplica às taxas estimadas de dependência de celular, que podem chegar a 60% (no Brasil, este número está na casa dos 34%, segundo um estudo realizado pela pesquisadora Anna Lúcia King, da UFRJ).
Os índices se mostram ainda mais preocupantes devido à precocidade do uso do celular. Crianças de dois ou três anos de idade já se utilizam do aparelho. Já os jovens possuem acesso pleno. Da mesma forma que outras dependências, também a nomofobia, começando cedo, torna suas consequências ainda piores, no campo físico e psicológico.
Nos jovens, por exemplo, têm sido observado uma falta de habilidade nos relacionamentos interpessoais, com dificuldades no estabelecimento de vínculos de amizade e/ou afetivos plenos e duradouros.
Da mesma forma que acontece com as drogas, as dependências comportamentais são capazes de levar a uma hiperatividade constante do “sistema de recompensa cerebral” (SRC), podendo causar alteração no funcionamento cerebral. Com a liberação do neurotransmissor dopamina, o SRC é ativado, proporcionando imediatas sensações de prazer e satisfação.
As pessoas que apresentam uso abusivo do celular têm maior chance de desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de impulsividade, embora a relação de causa-efeito nem sempre seja fácil de ser estabelecida. Problemas físicos frequentemente ocorrem, incluindo fadiga, patologia ocular, dores musculares, tendinites, cefaleia, distúrbios do sono e sedentarismo.
Apesar das consequências de longo prazo do funcionamento alterado pelo excesso do uso do celular ainda serem incertas, é possível identificar sinais e sintomas que denotam o uso problemático do celular.
O primeiro deles é a fissura. Ou seja, quando a pessoa se sente ‘pra baixo’, usa o telefone celular para se sentir melhor.
Abstinência se divide em duas: quando não está com o aparelho fica preocupado e ansioso em perder chamadas ou mensagens; e quando acha difícil desligar o aparelho em situações obrigatórias, como no avião ao decolar.
Entre os sinais,constam as consequências negativas para a vida, divididas em três partes: a pessoa atrasa em compromissos por ficar muito tempo no celular; gasta valores elevados na compra do aparelho e nas contas; ocupa-se demasiadamente com o celular quando deveria estar fazendo outras coisas;a produtividade no estudo e/ou trabalho reduz como resultado direto deste padrão de uso do celular e recebe mais multas de trânsito.
Outro sinal significativo é a perda de controle: os amigos ou familiares reclamam do padrão de uso do celular, podendo atrapalhar os relacionamentos; permanece conectado ao celular por períodos muito maiores do que gostaria.
E em também a tolerância: aumento progressivo no tempo que fica usando o celular; incapacidade de gastar menos tempo usando o aparelho.
Para saber se você está entre os 34%e brasileiros nomofóbicos, observe se a primeira coisa que você faz quando acorda é olhar o seu celular. Outras dicas para saber se você tem dependência do celular: checar o telefone de cada 5 a 30 minutos; dormir com o celular no quarto (ou, pior ainda, deixá-lo do lado da cama); sempre arranjar uma desculpa para levar o celular para o banheiro e, por fim, andar com ele na mão a maior parte do tempo.
O professor José Alexandre Crippa, titular do departamento de neurociências e ciências o comportamento da FMRP-USP alerta que jamais se deve levar o celular para a cama. O ideal é desligá-lo e deixá-lo fora do quarto. Se a sua desculpa é usar o aparelho para despertar, então compre um despertador.
Ao acordar, use a regra dos primeiros 45 minutos (para os homens), ou 60 minutos (para as mulheres). Ou seja, prepare o dia que terá pela frente. Vá ao banheiro, prepare seu café da manhã e se arrume. Sendo casado ou casada, beije seu parceiro (a). Estes primeiros minutos, portanto, são inteiramente seus. Nada de checar o celular antes disso.
O professor dá mais dicas: Carro ligado, celular desligado. Isso pode economizar em multas e reduzir drasticamente a chance de um acidente sério. Durante seu período mais produtivo, desligue o celular, coloque-o longe do seu alcance (numa bolsa ou gaveta) e só o religue quando completar o seu trabalho.
Outro detalhe muito importante: fique atento à criança com celular. Observe o padrão de uso e conteúdo que ela acessa e imponha limites com disciplina. Estabeleça os momentos e o tempo de uso que seu filho pode se dedicar esta atividade.
Para José Alexandre, se nada disso ajudar, talvez seja preciso uma avaliação de um profissional de saúde mental.
Tranquilo pra você? Ou já correu para o celular?
Fonte: Blog Letra de Médico via Revista Veja