A busca pela identidade equivocada

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Provavelmente quando você era mais novo acreditava que seus colegas tinham uma vida bem menos certinha que a sua. Você pensava que eles estudavam menos e usavam álcool, drogas e faziam sexo à vontade, certo?

Bom, você estava enganado. E não é o único.

De acordo com este estudo realizado em conjunto pelas universidades de Stanford e da Carolina do Norte, os adolescentes são bem ruins em imaginar o que os seus colegas fazem por aí. É aquela história da grama do vizinho ser mais verde, entende? No caso, os adolescentes superestimam coisas como sexo, drogas e álcool presentes na vida dos outros, ao mesmo tempo que subestimam a quantidade de tempo dedicada aos estudos e exercícios.

Na pesquisa, que analisou as percepções e o comportamento de 235 estudantes do ensino médio de uma escola suburbana de renda média alta nos Estados Unidos, os participantes tiveram de informar, de forma confidencial, seu envolvimento em várias atividades. Ao mesmo tempo, precisavam predizer o envolvimento de seus colegas nestas mesmas atividades.

Os estudantes foram divididos em grupos: os populares, os atletas, os nerds, os alternativos e aqueles que não se identificavam com nenhuma turma específica. O resultado revelou erros enormes entre o comportamento real e o percebido – e isso em todos os grupos, mesmo aqueles considerados com maior potencial de influenciar outros, como os populares e os esportistas.

Foram comprovadas percepções exageradas sobre o comportamento dos colegas dentro de sua própria turma. Enquanto o consumo de drogas e a vida sexual eram normalmente superestimados, o tempo dedicado aos estudos era geralmente subestimado, pois os adolescentes achavam que seus colegas estudavam menos do que realmente faziam, exceto o grupo dos inteligentes, que dedicavam para isso um tempo 50% menor do que seus colegas pensavam.

Segundo Geoffrey Cohen, um dos autores do estudo, o estudo mostra que os adolescentes estão tentando se adequar a normas e identidades baseadas em estereótipos e caricaturas, e não na realidade. Este problema se torna perigoso se considerarmos que nesta fase ficamos sensíveis ao julgamento dos colegas e muitas vezes tentam imitar os “caras legais”, e uma busca pela identidade equivocada “pode levar os adolescentes para a direção errada”, afima Cohen.

A pesquisa também comprovou isto em sua segunda etapa, após analisar a relação entre o comportamento dos adolescentes em uma escola rural de baixa renda e a sua ideia do que seus colegas dos grupos mais populares estavam fazendo. Nesta etapa, o foco foi somente o uso de drogas.

Os que acreditavam que os populares usavam drogas tinham maior risco de se engajar em comportamentos parecidos. A intensidade com que entravam nessa dependia não da realidade, mas da imagem equivocada que haviam fabricado a respeito. Ou seja, aqueles que acreditavam que os colegas consumiam mais drogas acabavam usando uma quantidade também maior com o tempo – e isso mesmo sem o fato ser verdadeiro.

Diante de tais resultados, os autores pretendem seguir com o trabalho para analisar mais a fundo a influência dessas percepções na vida dos jovens.

 

Fonte: Superinteressante