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O país mais rico do mundo enfrenta uma crise que se alastra rapidamente: a dependência em heroína. Mais de 1 milhão de americanos já são dependentes desse tipo de droga, que foi a principal causa de morte de homens e mulheres com menos de 50 anos no ano passado.
Na cidade de Nova York esta epidemia inédita de heroína e drogas similares que já mata três pessoas por overdose diariamente, um aumento de 46% registrado entre 2015 e 2016.
O governo local reagiu de forma ousada: convocou a população a agir, espalhando milhares de cartazes em inglês e espanhol por vagões de metrô com o mote “Salve uma vida”. A proposta é que os moradores de Nova York tenham na bolsa doses de naloxona – uma substância de efeito rápido que anula os efeitos da overdose por drogas derivadas do ópio.
Através de convênios da prefeitura, a medicação – em seringas ou aplicação nasal – passou a ser vendida em mais de 700 farmácias sem necessidade de receita médica, além de ser distribuída gratuitamente em pontos espalhados por toda a cidade.
Com o objetivo de que todo cidadão nova-iorquino esteja preparado para aplicar a medicação, caso encontre alguém em estágio de overdose em seu caminho, o programa também inclui cursos gratuitos para identificação dos sinais de overdoses e procedimentos para aplicar o remédio, além de uma linha telefônica para aconselhamento em 200 idiomas que funciona 24 horas.
Com investimento anual de US$ 38 milhões – algo em torno de R$ 150 milhões, 12 vezes maior que o extinto programa Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo contra o crack – o programa pretende aproximar usuários e não usuários na luta pela redução de mortes por overdose.
De acordo com o governo, as mortes já se espalham por todos os bairros de Nova York e envolvem diferentes grupos étnicos – em 2016, a taxa absoluta de overdoses foi ligeiramente maior entre nova-iorquinos brancos, do sexo masculino. Por outro lado, segundo dados oficiais, o número de pessoas salvas de overdoses no ano passado graças a aplicação da naloxona foi maior do que uma por dia.
Para os especialistas, o crescimento abrupto do número de dependentes pode estar ligado ao aumento de prescrições de analgésicos opiáceos (remédios contra dor, que agem no cérebro de maneira semelhante à heroína), vendidos sob receita médica no país, que quadruplicou desde 1999 de acordo com números do CDC (Center for Disease Control and Prevention – Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, em tradução livre). Tais números mostram que este é um dos principais problemas de saúde pública a ser enfrentado nos EUA e que afetou até mesmo a mais recente disputa eleitoral pela presidência do país – o vencedor, Donald Trump, prometeu restringir a fabricação dos analgésicos opiáceos.
Apesar de leis recentes restringirem o acesso ao remédio, traficantes passaram a vender os medicamentos, assim como a heroína, cujos efeitos podem ser mais rápidos e fortes. Assim, muitos usuários acabaram migrando dos analgésicos para a droga ilícita.
Nos Estados Unidos, como no Brasil, as estratégias de combate ao vício esbarram em resistência de parte da população, que afirma preferir que o dinheiro de seus impostos seja investido de outra maneira.
Para Hillary Kunins, médica e uma das responsáveis pela campanha na Secretaria de Abuso de Álcool e Drogas da cidade de Nova York, a redução de danos engaja os usuários a quererem a se tornar membros ativos da sociedade. “As pessoas que usam drogas experimentam consequências em sua saúde, mas esses problemas nos afetam a todos”, disse ela à BBC Brasil. “Investir em tratamento economiza em saúde e em segurança. Salva famílias”, conclui.
Fonte G1 via BBC Brasil