Quando a diversão vira vício

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Apresentamos aqui um estudo feito pelo National Institute on Drug Abuse, nos Estados Unidos, que resultou num paradoxo: o resultado apontou que no uso e na experimentação de drogas ilícitas entre jovens e a tecnologia pode ser um dos fatores que contribuíram para tal queda. Acontece que cientistas contestaram o resultado, alegando que, em verdade, seria o inverso.

Alguns leitores, através de nossas redes sociais, questionaram a postura dos cientistas. Mas eles (os cientistas) têm motivo de sobra para questionar o resultado, já que o universo digital também virou motivo de preocupação: a dependência digital passou a aparecer com maior frequência nos consultórios psicológicos e psiquiátricos especializados em crianças e adolescentes.

Um estudo da Unifesp feito em 2014 pela psicóloga Fernanda Davidoff com 264 estudantes paulistanos dá uma ideia do nível de abuso. A pesquisa revelou que 65% deles dormem pouco para continuar logados, 51% acessam a internet enquanto almoçam ou jantam e 33% usam os dispositivos até no banheiro. Segundo os especialistas, a dependência digital pode levar a outros distúrbios, como ansiedade, depressão e até uso de entorpecentes no futuro – daí o questionamento dos cientistas com relação aos estudo apresentado nos EUA.

Trata-se de um problema que afeta o mundo inteiro — tanto é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende classificar o vício em jogos eletrônicos como distúrbio psiquiátrico. “Muitas vezes, a dependência parte dos adultos, que também têm dificuldade em controlar o uso”, afirma Fernanda.

Na Clínica Alamedas, do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, no Planalto Paulista (SP), a quantidade de pacientes com esse perfil passou de vinte, em 2014, para quarenta, atualmente. A psicóloga Dora Góes, da USP, uma das maiores experts em tratar dependentes em geral, tem hoje em seu espaço de trabalho, em Moema (também na capital paulista), cinco jovens com problemas relacionados ao universo digital. Há cinco anos era apenas um.

Há dez anos o Hospital das Clínicas em São Paulo dispõe de um setor para adultos com vício digital. Devido ao aumento na demanda por parte de jovens dependentes, há três anos foi criado um serviço voltado para as famílias devido desse público. Até agora, mais de 100 casais foram atendidos e a ideia é ampliar os grupos.

Os sintomas da dependência digital são claros e variados e surgem quando a situação começa a sair do controle. Os jovens passam a se descuidar dos estudos e ficam extremamente irritados se alguém tenta pôr limites, entre outras coisas. Com um acompanhamento terapêutico, em parceria com os pais, é possível reverter o problema. Mas o ideal, claro, é não deixar que se chegue a um ponto crítico. Antes dos 3 anos, os especialistas não indicam o uso de aparelhos eletrônicos. Para os mais velhos, duas horas diárias, no máximo, incluindo o tempo gasto com televisão.

Abaixo, algumas dicas para os pais identificarem os indícios de que o filho está muito conectado:

Tensão: fica extremamente irritado se a internet cai, a bateria acaba ou o adulto impõe limites de uso.

100% on-line: checa as redes sociais ou fala por WhatsApp quando está assistindo a um filme ou conversando com amigos e familiares.

Fuga: acessa a rede ou liga o videogame para fugir dos problemas corriqueiros ou para tentar melhorar o estado de ânimo.

No mundo da lua: descuida dos estudos, das atividades extra curriculares ou de relacionamentos com amigos e familiares por causa da rede.

Mentira: não cumpre os acordos para se desconectar ou não fala a verdade sobre o horário em que foi dormir.

 

Fonte: Revista Veja