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Em julho deste ano, a crise econômica no Rio de Janeiro e o aumento da criminalidade no Estado levaram o governo federal a enviar o Exército para reforçar a segurança.
Mesmo assim, os confrontos entre facções criminosas ou entre tráfico e polícia têm sido constantes em favelas cariocas. A rede municipal de ensino, por exemplo, só teria funcionado de maneira plena durante oito dias neste ano.
Lançado pelo governo federal para promover a atuação dos militares, um vídeo promocional causou polêmica ao contrapor imagens idílicas de paisagens do Rio à presença de tanques em favelas, dizendo que o Rio está “ferido”, mas segue em frente cheio de “vida, alegria e beleza”, e resiste, sabendo que a luta “é de todos nós” – exibindo o aparato militar nas comunidades.
Segundo a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/UCAM), “nos últimos anos, trabalhando na linha de frente do debate sobre política de drogas, percebemos que a voz dos moradores de favelas, que sofrem no seu cotidiano com a violência policial legitimada pela chamada guerra às drogas, não é ouvida”.
Para quebrar esta lógica surgiu o grupo Movimentos: Drogas, Juventude e Favela, resultado de um projeto do já citado Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e parte da necessidade de incentivar o protagonismo de jovens moradores de favelas na busca por alternativas à atual política de drogas, criando espaços para eles participarem desta discussão.
O projeto teve início em maio de 2016, quando dez jovens de favelas e áreas periféricas do Rio de Janeiro, de Salvador e de São Paulo participaram de uma oficina de três dias sobre política de drogas no Complexo da Maré. Na ocasião, o grupo se envolveu com atividades e dinâmicas sobre temas como violência, racismo, política, ativismo e comunicação. Desde então, o Movimentos passou a se reunir periodicamente com um intercâmbio constante entre a pesquisa acadêmica e a vivência nas comunidades, para construir material que ajudasse a discutir política de drogas dentro e a partir da favela – palavra que o grupo faz questão de usar no lugar do politicamente correto “comunidades”.
O lançamento oficial do Movimentos foi no dia 2 de setembro no Centro de Artes da Maré, no Rio de Janeiro. Além de uma roda de conversa com a presença de Djamila Ribeiro, Douglas Belchior e a jornalista Flávia Oliveira, na ocasião também foi lançada uma cartilha sobre política de drogas, idealizada pelos próprios jovens.
À partir desta cartilha, o grupo vai começar a trabalhar em um documento propositivo para política de drogas e planeja para o fim do ano um encontro nacional reunindo jovens de favelas e periferias para ampliar o debate.
“A guerra às drogas, para nós, significa escolas fechadas, mudança na rotina, medo de sair de casa, preocupação com o nosso bem-estar e o da nossa família”, explica o Movimentos em um manifesto que o grupo elaborou para esclarecer sua visão sobre o tema.
“Ninguém está fazendo apologia do uso ou da venda de drogas. O que esses jovens querem é desafiar o senso comum, desafiar ideias preconcebidas em relação à política de drogas e contribuir para mostrar que a atual política de drogas acaba por legitimar a violência da polícia dentro das favelas”, diz Julita Lemgruber.
Para Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão – conhecida favela do município do Rio de Janeiro –, e um dos coordenadores do Movimentos, “a única política pública que chega de forma permanente na favela vem através da secretaria de segurança. Os governantes nos observam apenas através da mira do fuzil. É por isso que a favela precisa falar sobre drogas e criar alternativas a esta lógica de guerra”.
Assista, abaixo, um vídeo com apresentação e divulgação do Movimentos:
Fonte: Segs