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A intoxicação de animais domésticos por drogas recreativas está presente na rotina de atendimento clínico dos médicos veterinários de pequenos animais. O cão é a espécie mais acometida, uma vez que é capaz de ingerir ou inalar acidentalmente drogas como a maconha e cocaína, responsáveis por uma sintomatologia neurológica e cardiovascular que requer rigoroso acompanhamento e tratamento veterinário para a obtenção de um prognóstico favorável.
Em cães, a intoxicação por maconha pode ocorrer pela inalação da fumaça e ingestão da planta ou óleo de haxixe. Os sinais clínicos podem aparecer de 30 a 60 minutos após exposição ao princípio tóxico. Da sintomatologia observada, destacam-se a depressão do sistema nervoso central, ataxia, midríase, hiperestesia, ptialismo, tremores musculares e incontinência urinária.
Já a cocaína bloqueia a condução de impulsos nervosos pela diminuição da permeabilidade da membrana axonal aos íons sódio. Os efeitos sistêmicos nos cachorros resultam do bloqueio da recaptação e promoção da liberação de neurotransmissores nos sistemas nervosos central e periférico.
As manifestações agudas mais proeminentes são decorrentes da hiperexcitação do sistema nervosos central e dos efeitos cardiocirculatórios da hiperatividade simpática, seguido da depressão do funcionamento desses sistemas, com hipotensão arterial, bradicardia, coma e depressão respiratória.
Em um estudo retrospectivo realizado nos EUA, relata-se a ocorrência de 19 intoxicações por cocaína em cães/ano. Em todos os casos a sintomatologia consistia de alguma alteração neurológica.
Isso explica porque um cachorro da raça Staffordshire Bull Terrier atacou seu dono depois de ter comido cocaína.
O incidente ocorreu em Londres, no Reino Unido. Uma equipe da BBC estava presente na casa de Mario Perivoitos gravando um documentário sobre drogas intitulado Drugs Map Britain. Depois de ter consumido cocaína, o britânico de 41 anos ficou indisposto e teve um ataque epiléptico. Foi quando seu animal de estimação, chamado Major, o agrediu.
A equipe de filmagem da BBC chamou uma ambulância e tentou lutar contra o cachorro. Eles ficaram presos no apartamento por cerca de 30 minutos. A polícia levou quase 10 minutos para abrir a porta, pois estava fortemente trancada.
Perivoitos foi para o hospital com lesões graves em seu rosto e pescoço, hemorragia extensa e laringe esmagada. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital.
Nicholas Carmichael, especialista em toxicologia veterinária, afirmou que o animal estava claramente drogado, e é provável que isso tenha sido um fator no seu comportamento. Ele examinou a urina do cão e encontrou cocaína e morfina numa quantidade oito vezes maior que o limite normal para um animal.
Segundo Carmichael, o Bull Terrier “drogado” provavelmente se sentiu provocado quando seu dono teve um ataque epiléptico.
Major seria sacrificado, mas não há confirmação se isso ocorreu mesmo. A atitude é polêmica, tendo em vista que o cão não pode ser culpado por ter ingerido drogas.
Fonte The Independent