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“No clímax de seu desespero, o drogadito descobre que não há tóxico mais eficaz contra o risco de morte que a própria morte. Desta maneira ele constrói o projeto suicida com a urgência e a contundência de quem achou uma solução radical para todos os seus problemas”, escreveu o psiquiatra argentino Eduardo Kalina, um dos principais estudiosos no campo da drogadicção e dependência química.
O risco de morte por suicídio em dependentes de álcool é de 60 a 100 vezes maior, que na população em geral. E em usuários de outras substâncias há também um aumento significativo do risco de suicídio.
A dependência química, uma grave doença que acomete a cerca de 10% da população, de acordo com pesquisa feita pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), é progressiva e fatal, responsável por um número importante de mortes todos os anos. Por ser uma doença denominada biopsicosocial, sua relação com a morte é uma realidade por várias formas, entre elas destaco homicídios, acidentes de trânsito e de trabalho, vários tipos de cânceres e, neste texto, o suicídio.
O uso crônico de drogas leva o dependente químico a desenvolver complicações clínicas, psicológicas e psiquiátricas, levando o a uma variação de humor entre euforia e depressão, que exigem deste um maior consumo de substâncias, agravando cada vez mais seu quadro. Com o aumento do consumo e suas consequências a gravidade da depressão aumenta exponencialmente, bem com o sentimento de desesperança, tornando o dependente químico um suicida em potencial.
Com o agravamento da dependência química, o indivíduo passa a conviver com o sofrimento causado por suas próprias escolhas, não mais conseguindo parar, muitos mesmo após inúmeros tratamentos. Veem suas estruturas desmoronarem, e findam num penoso isolamento social, pois para suportar sua necessidade física e psicológica acabam por usar cada vez mais, e como consequência seus relacionamentos se dilaceram, sua capacidade de trabalhar ou estudar ficam restritas ou quase que impossíveis, sua moral totalmente nula, ninguém mais o quer próximo, a sociedade o discrimina e condena, culminando com respostas violentas da parte destes usuários.
O sofrimento interior do dependente químico é tão grande, que a única coisa que ele quer é que isto pare, e as drogas a essa altura não mais funcionam como fuga ou anestésico para tamanha dor, que não conseguem ver outra saída a não ser o suicídio, que em sua lógica faz todo o sentido, porque com o fim todos sairiam ganhando. Sua dor aumenta com a vergonha que este estado lhe proporciona, pois para ele é a desintegração total do Eu, e fica disposto a pagar o preço que for para acabar com este sofrimento, segundo Craig Nakken, terapeuta familiar especializado no tratamento da adicção, ninguém odeia mais o drogado que se tornou do que ele mesmo, e o suicídio representa assim um homicídio contra este drogado.
“O suicídio é, então, uma solução extrema que surge como defesa final perante o perigo mais temido, que é o confronto violento com a desintegração psicótica total do ego, (ou seja com a própria morte)”, conclui Kalina.
Texto de Danilo Della Justina – Psicólogo, Doutorando em psicologia social – publicado originalmente no site Alagoas 24 Horas