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Até o dia 14 deste mês foi realizada na cidade americana de Atlanta a Conferência Internacional de Reforma da Política de Drogas que, conforme o site oficial, “reúne pessoas de todo o mundo que acreditam que a guerra contra a droga deve terminar”. A Conferência Internacional é realizada a cada dois anos e é o principal encontro mundial de reformadores das políticas sobre drogas.
Uma das participantes foi a Fundação Action Semilla que trabalha há dois anos na Bolívia em questões relacionadas ao uso de drogas, à saúde pública e aos direitos humanos das mulheres.
Patricia Chulber, representante da Acción Semilla, destacou a importância da defesa da coca da Bolívia num contexto em que o governo dos Estados Unidos promove políticas de criminalização em relação aos países produtores andinos que buscam a matéria-prima da cocaína.
“Trata-se de fazer uma prática de descolonização, analisar como as políticas de drogas dos EUA agravaram a situação em países latino-americanos como o México ou a Colômbia”, disse Chulber.
Ela também disse que a delegação boliviana apóia a necessidade de construir uma rede que “fará face à legislação global que criminaliza plantas como a coca, que tem uso ancestral e medicinal na Bolívia”. A coca não é apenas usada como componente analgésico e alimentar, mas faz parte dos rituais religiosos dos povos andinos amazônicos e, portanto, é considerada uma herança cultural da Bolívia. Por isso, a delegação boliviana apresentará os progressos realizados por este país sul-americano para regular o cultivo, colheita e comercialização da planta.
Chulber enfatizou a importância comercial da coca boliviana na região e disse que apenas para o mercado norte da Argentina destinam pelo menos 1.600 toneladas para consumo legal e espera-se que aumente essa exportação para cerca de 4.000 toneladas, de acordo com dados da Seed Action Foundation .
Em março deste ano, o Governo da Bolívia legalizou o cultivo de 22.000 hectares de folha de coca, dos quais pretende industrializar pelo menos 7.000 para aproveitar as qualidades medicinais e nutricionais da planta. Apesar do aumento do cultivo de coca na Bolívia, o governo ainda luta contra o tráfico de drogas e a erradicação das culturas de coca sem o apoio dos Estados Unidos no que foi chamado de “nacionalização da coca”.
Esta nova lei, batizada de Lei Geral da Coca, prolonga o cultivo legal abordando uma antiga luta popular pelo reconhecimento dessa planta que “no estado natural não é droga” e destina-se a usos referentes aos costumes da Bolívia. De acordo com Victor Morales, membro do comitê técnico do MAS (Movimento oficial para o Socialismo na Bolívia), a legislação penalizará também o uso de folhas pelo tráfico de drogas, facilitando a apreensão de bens de indivíduos ou grupos envolvidos em atividades ilegais com a planta, como seu uso como matéria-prima no fabrico de cocaína.
Segundo o presidente boliviano Evo Morales, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apoiará seu Governo em uma investigação científica para determinar os benefícios da folha de coca cultivada na região andina. O governo boliviano, juntamente com as autoridades da OMS, trabalhará em um programa “para treinamento de especialistas em cardiologia, neurologia, nefrologia, gastroenterologia e oncologia para a Bolívia”. Em um discurso feito na ONU, Morales afirmou haver motivos “de ordem legal, científica, social e cultural [para esta investigação]. O nosso desafio é continuar a ‘desmonizar’ o uso da folha de coca para o consumo tradicional”, disse o presidente boliviano.
Entretanto, um problema já foi detectado: as culturas de coca aumentaram 14% de 2015 para 2016 e penetraram em áreas protegidas, atingindo um total de 23.100 hectares em todo o país, informou o representante do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime o crime (Unodc), Antonino de Leo, durante a apresentação do 14º Relatório sobre o monitoramento do cultivo de coca na Bolívia.
Além da Bolívia, Peru e Colômbia estão também entre os países que produzem folhas de coca na região.
Fonte: Sputnik News