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Quase a metade dos fumantes brasileiros diz querer largar o cigarro, mas seus esforços ainda esbarram na tentação provocada pelo marketing dos produtos e na demanda por mais programas de aconselhamento e apoio à cessação do vício na rede de saúde pública, sugere a terceira edição de pesquisa global de projeto sobre o controle do tabagismo divulgada pelo Instituto Nacional do Câncer José Gomes Alencar (Inca).
A proporção de brasileiros que afirmou planejar parar de fumar num prazo de seis meses (49%) é a maior registrada nos 28 países onde o novo levantamento do Projeto Internacional de Avaliação das Políticas de Controle do Tabaco (Projeto ITC) foi realizado e onde vivem dois terços dos fumantes do planeta. Aqui, principal motivação apontada para largar o vício (68%) foi a preocupação com a própria saúde, seguida de “dar exemplo para as crianças” (66%), da preocupação com os efeitos gerados pela fumaça na saúde de não fumantes próximos (51%) e do preço dos cigarros (50%).
A pesquisa, no entanto, também mostra que o Brasil ainda não conseguiu banir por completo a propaganda dos produtos como requer a Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, tratado internacional proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1999, o que pode dificultar as tentativas de parar de fumar dos viciados (além de continuar a trair novos consumidores, especialmente crianças e jovens).
Afinal de contas, sabemos que é difícil mudar costumes. Parar de fumar, comer menos carne, passar a se preocupar mais com o meio ambiente, fazer exercícios físicos, tudo isso dá trabalho. Mas nossos comportamentos podem mudar. E comportamentos coletivos também.
Até pouco tempo atrás, por exemplo, era impossível passar um tempo em um bar ou casa noturna sem sair cheirando a cigarro. Hoje, todo mundo parece ter se adaptado muito bem às novas regras. Assim foi também com o uso do cinto de segurança: se antes era um incômodo, hoje é uma prática padrão.
Como as mudanças sociais ocorrem? O que leva as pessoas a revogarem um status quo?
Foram estas perguntas que levaram Gregg Sparkman, aluno de doutorado em psicologia da Universidade de Stanford, a criar uma série de testes para um estudo voltado a descobrir quais fatores influenciam as pessoas a mudarem. Sparkman e o professor Greg Walton realizaram quatro experimentos relacionados ao consumo de carne. Eles escolheram esse hábito por ser descrito por Sparkman como “bem enraizado, altamente visível e algo que você faz todos os dias na presença de outros” – semelhante ao ato de fumar.
Um aspecto importante desses estudos, dizem os pesquisadores, é que os participantes nunca foram convidados a mudar seu comportamento, ou sequer ouviram os benefícios de fazer isso. “Nós não pedimos às pessoas que não comessem carne ou comessem menos carne”, diz Walton. “Eles apenas receberam informações sobre mudanças”.
Ou seja, existe um meio bem mais efetivo – e sutil – de promover mudanças comportamentais. Esse meio é convencer as pessoas de que as normas sociais relativas a esse hábito já estão mudando. “As mensagens dinâmicas podem desempenhar um papel importante na mudança social”, diz Sparkman. “Saber que outras pessoas estão mudando já pode instigar todos esses processos psicológicos que motivam mudanças”.
Embora as mudanças de comportamento geralmente ocorram de forma lenta, elas acontecem – e talvez mais frequentemente do que pensamos.
Fonte: Superinteressante