Porque sempre haverá algum risco

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Alardeado como uma estratégia segura para quem quer parar de fumar, o cigarro eletrônico reúne hoje em torno de si um consenso entre especialistas: ele carrega, sim, substâncias que prejudicam a saúde, portanto o seu uso oferece riscos que incluem problemas cardiovasculares e câncer de pulmão.

O primeiro cigarro eletrônico surgiu em 2003, inventado pelo farmacêutico chinês Hon Lik, que depois vendeu sua patente para a Imperial Tobacco, uma multinacional britânica.

Ao invés de queimar folhas de tabaco, o dispositivo trabalha com uma bateria, um vaporizador e um cartucho, que é trocado por refis. Esse cartucho pode ser preenchido com um líquido composto de propilenoglicol (álcool que, quando queimado, pode gerar aldeídos, substâncias conhecidas por causar doenças), substâncias aromatizantes e nicotina — o elemento responsável pela dependência. Mas outras substâncias podem ser acrescentadas, já que a maioria dos países não tem uma legislação sobre isso.

Em nações como China e Reino Unido, a venda desses aparelhos é liberada. Outras como Dinamarca e França legalizaram a venda, mas com uma série de medidas restritivas, como o controle de publicidade — tal qual o que é feito em relação aos cigarros convencionais. Nos Estados Unidos, a comercialização e as regras de utilização variam de acordo com o estado.

No Brasil a venda desses dispositivos nunca foi permitida. A proibição oficial veio em 2009, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alegou não haver estudos científicos suficientes.

A novidade é que até a indústria do tabaco admite que “sempre vai haver algum risco”.

Quem afirma isso é James Murphy, diretor da Unidade de Fundamentação de Risco Reduzido da British American Tobacco, a maior fabricante de cigarros do mundo, com sede em Londres. A multinacional é controladora, por exemplo, da brasileira Souza Cruz. Ele admite que nenhum produto de tabaco pode ser considerado sem riscos. “Há possíveis danos cardiovasculares, riscos para a função do pulmão. Quando o cigarro eletrônico solta glicerol, ele pode afetar o funcionamento do pulmão” — alerta James.

Solange Cristina Garcia, coordenadora do Laboratório de Toxicologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), destaca que é irreal defender que o cigarro eletrônico pode ser usado como estratégia para parar de fumar já que ele possui nicotina “Então, se a pessoa não reduzir a quantidade de nicotina do aparelho, nunca vai deixar de fumar. E é isso o que mais se vê. As pessoas dificilmente reduzem”, afirma ela. Como já vimos aqui, uma pesquisa comprovou que o uso desses dispositivos contendo nicotina pode causar um endurecimento das artérias, assim como aumentar os batimentos cardíacos e da pressão arterial.

Por desconhecer no Brasil linhas de pesquisa de química sobre o e-cig em universidades, Gisele Birman Tonietto, professora de Química da PUC-Rio, organizou de um seminário sobre cigarro eletrônico naquela instituição. “Temos a necessidade de nos posicionar cientificamente sobre esse assunto. Por isso é importante trazer a discussão para a academia” — afirma Gisele.

A iniciativa da professora vem em boa hora: o assunto voltará à pauta da Anvisa até 2020. Isso porque o órgão incluiu o subtema “Novos tipos de produtos fumígenos – Dispositivos eletrônicos para fumar” em sua Agenda Regulatória 2017-2020. Dentro desse período, portanto, o tema deverá ser aberto para consulta pública.

 

Fonte: site Anti-Drogas