Danos permanentes

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O Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou dados que mostram que 3 em cada 10 casos da doença no Brasil estão associados a fatores ambientais como , sedentarismo, obesidade e exposição solar sem proteção.

Estudos internacionais já indicam que fatores ambientais aumentam o risco de desenvolvimento de tumores mama, colo de útero, ovário, colorretal, pâncreas, pele, melanoma, entre outros.

O número de casos, porém, pode ser ainda maior já que o tabagismo e o excesso de bebida alcoólica também surgem na lista. O risco aumentado do consumo de álcool para o câncer é conhecido. O próprio Inca relaciona o consumo com maior chance de câncer de boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino (cólon e reto) e mama (pré e pós-menopausa).

De acordo com pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade de Cambridge, um subproduto da bebida alcoólica, o acetaldeído, provoca danos permanentes ao DNA de células-tronco no sangue.

O estudo, publicado na revista Nature, detalha (com testes em cobaias) como o álcool aumenta o risco do câncer: o acetaldeído danifica células-tronco do sangue “quebrando” o DNA dessas células e levando os cromossomos a se rearranjarem de forma aleatória. Como as células-tronco têm maior capacidade de se multiplicar e de se diferenciar em diferentes tecidos, mutações nessas estruturas são cruciais para o desenvolvimento de tumores.

Os cientistas observaram que enzimas chamadas de “aldeído desidrogenases (ALDH)” tentaram transformar a bebida em fonte de energia, como se elas fossem um alimento. Há pessoas, porém, que não possuem essas enzimas ou elas não funcionam corretamente. Assim, quando esses indivíduos bebem, o acetaldeído se acumula, o que aumenta em até quatro vezes a chance de danos ao material genético.

E, ainda segundo o estudo, dependendo da quantidade ingerida, o acetaldeído nem sempre é eliminado totalmente independente se temos ou não a enzima para metabolizá-lo.

Segundo o oncologista Fernando Maluf, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, é na infância e na adolescência que hábitos prejudiciais à saúde começam: 90% dos fumantes começaram a fumar antes dos 19 anos de idade e mais de 50% dos etilistas começaram a beber também nessa faixa etária. Para Maluf, é fundamental que ações de prevenção sejam feitas com foco nessa população. “Crianças saudáveis tornam-se adultos mais saudáveis”, lembra o especialista.

Ainda de acordo com os dados do Inca, pessoas que tentaram parar de fumar também ingeriram menos álcool do que aquelas que não tinham tentado largar o vício. Essas pessoas também tendiam a beber menos em binge e tinham maior probabilidade de serem consideradas pessoas que bebem pouco.

 

Fonte: Letra de Médico/Revista Veja